Um adeus necessário?

Prólogo:

O som mais leve e até um sussurro fragora estrondoso e espantosamente quando não é esperado. Dá medo. Causa arrepios e sobressaltos. O que se poderá dizer de uma despedida inesperada de uma pessoa querida, útil e necessária?

Como o sibilo de um chicote ou o som tonitruante de uma tempestade dantesca as palavras escritas pela menina-mulher risonha soaram, como uma sentença irrecorrível, mais ou menos assim:

"... se estou sendo grosseira desculpe-me... essa não é minha intenção. Guardarei comigo, em segredo, os momentos bons. Fui feliz. Pude rir e fazer sorrir, mas hoje serão só lembranças e nada mais...".

Todos as noites fragorosas tormentas, à guisa de lembranças ruins, povoavam e atormentavam a mente do homem sério. Ele esperava o porvir nigérrimo e lastimoso. O silêncio e as faltas das melhores respostas aos “e-mails” e às cartas escritas com esmero eram uma indicação agourenta, um presságio fatídico em sua gênese profética.

Entre os lapsos de memória do passado longínquo e os sonhos coloridos de hoje, na representação dos melhores momentos vividos em pretérito recente, sobre ou sob o corpo veludo quase abandonado da menina-mulher, o autodidada com os olhos firmes escrevia em resposta a um adeus desnecessário.

Ouvindo o som suave, nostálgico, meloso de Enya e Lorena Mckennitt Henrique brincava com o teclado como se fosse um piano que emitia sons tristes ante o inusitado do momento. Às vezes o homem solitário sentia falta de um ritmo tipo “Afro Celt”.

Insensibilidade, egoísmo e sinceridade! Essa estranha mistura povoava a mente do poeta das ilusões após ler as malfadadas linhas do insulso “e-mail” enviado pela criatura que sempre fora vista pelo taciturno poeta como sendo uma santa na acepção da palavra.

Em 30 de novembro de 2008 foi publicado no Recanto das Letras o texto “Um adeus alegre”. Nessa ocasião foi escrito:

“Muitas pessoas passam a vida atrás do "e viveram felizes para sempre" que lemos nos contos de fadas. Na vida real descobrimos que nem sempre existe o "mágico final feliz". O que existirá sempre é um homem e uma mulher aprendendo a expressar o seu amor na presença da egocêntrica natureza humana”.

Certa ocasião uma repórter perguntou a modelo Adriane Galisteu se ela faria algo para o bem do outro: "Para o bem do outro? Não. Só faço pelo meu bem. Essa coisa de dar sem cobrar, dar sem pedir, não existe...".

Noutros dois parágrafos do texto “Um adeus alegre” o homem só escreveu com a convicção dos iluminados ocasionais:

“Há situações em que tudo passa tão depressa que nem dá tempo de se despedir. Fica um vazio tão grande... é como algo estranho, um monstro imensurável, medonho, que parece engolir o ideal de um sonho colorido”.

“Assim é um tempo bom que se finda, um ente querido que parte em forma de luz para o infinito, um amor sublimado frustrado, uma não esperada decepção enaltecida, um caso malsão, perdido e/ou mal resolvido, uma vida que se esvai de forma lenta e gradual deixando um misto de amor, tristeza e saudade no sofredor que fica”.

Não quero e não vou mais me estender nesse escrito lamentoso e improfícuo. Necessito encerrar perguntando e afirmando minhas verdades. Quem de nós poderá falar de amor? O tempo passou depressa, fugaz como os beijos furtivos trocados às pressas.

Não se quer mais ter um colóquio murmurado. Tampouco convém ousar fingir alimentar algo que não poderia vingar porque “essa coisa de dar sem cobrar, dar sem pedir, não existe”.

Estaria certa a senhora modelo Adriane Galisteu ou o misto de sinceridade, egoísmo e insensibilidade como um ultravírus, tal qual a indecência da problemática financeira humana, atrelada à cupidez dos muitos necessitados e desviados em seus caracteres mais admiráveis estaria infectando a virtuosa mulher?

Encerrarei este devaneio, finalmente, citando um pequeno, mas significativo período que foi transcrito do texto “A despedida que eu não queria" (também publicado no Recanto das Letras):

"Todo coração dói numa despedida. A alma fica sofrida, toda perdida mas o tempo, pouco a pouco cura se não cura, a dor decerto ameniza em uma esperança que se realiza e aos poucos elimina essa tortura e a amargura também se afasta e a vontade de vencer se resgata através do coração com brandura."(SIC) – (Sueli do Espírito Santo).

Entre lufadas imaginárias, malcheirosas, carregadas de eletricidade negativa, perdeu-se uma causa nobilíssima. Foi-se a amiga que sabe seduzir pela sedução de seu ilibado modo de ser. A distância entre os propósitos dos que se abraçaram, outrora, acentuaram-se porque um por um não foi capaz de se fazer compreender e superar seus limites e dificuldades existenciais.

Há mais de trezentos anos antes de Cristo (A.C.) Xenócrates afirmou algo assim: “Arrependo-me de palavras que disse, mas jamais do meu silêncio”.

De uma benquista amiga recebi um texto em “pps” sob o tema “O silêncio dos lobos”. Nesse texto vi um ensinamento que, naturalmente, mais por intuição do que por denodo, formação social e/ou religiosa sigo à risca.

“... quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas. Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia e continua a trabalhar mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota...”.

Assim como viro a página de um livro em silêncio ultrapasso mais uma etapa de minha existência! Em verdade não creio que existisse entre os amantes uma empatia forte o suficiente para que se mantivessem juntos.

A discrição sobre o relacionamento espúrio será mantida! O respeito às conveniências sociais, religiosas e familiares é o grande segredo da lisura que norteia o caráter dos envolvidos em uma trama amorosa.

Resta-me o consolo sublimado de poder citar o escritor Antoine de Saint Exupéry após o cair do pano de forma tão brusca como um adeus que talvez não fosse necessário:

"Aqueles que passam por nós,

não vão sós, não nos deixam sós.

Deixam um pouco de si.

Levam um pouco de nós."

(Antoine de Saint Exupéry)