O Esclarecimento

Não tenho mais nenhum motivo para escrever nada!

Tantas coisas têm dado errado.

Mas eu também não tenho sono

E minha vontade se esvai em inspirações (...)

Talvez por não mais querer escrever.

Mas a garrafa verde completamente cheia me chama

Poucos entenderiam do que se trata uma garrafa verde

Eu ainda tenho café e um grande coração,

Mas escondo de todos o tamanho real do meu coração.

A pior dor da minha vida foi sentir demais... Foi uma dor inchada.

Não era para doer tanto assim; são tantos sentimentos.

Muitos trocariam isso; parece ser bonito, mas ainda insisto.

- Como sentir demais pode ser a pior dor? – dizem.

- Vocês não sabem do que se trata. – respondo.

Talvez acreditem que eu fosse aquilo que queria ser.

Se eu fosse, me bastaria café, cigarro ao canto da boca e um lápis nas mãos.

Ah, um lápis seria minha grande chance;

Se com ele eu pudesse escrever tudo que eu sonhasse,

E apenas com o outro lado dele – a borracha – eu apagaria tudo que não quisesse.

Mas eu admito: mesmo se eu soubesse antes não apagaria aquilo que sou.

Porque na verdade, realmente parece ser uma boa ventura.

Quem não poderia mudar o mundo com idéias e um coração?

Concluo em um pequeno tempo de vida que esse é o início.

Olhos supérfluos dizem que sou bem aventurado.

Mas bem aventurados não são aqueles que crêem?

Na verdade, no que eu creio?

Não sei se tenho tempo suficiente para crer em algo;

Minhas crenças têm sido em sentimentos e amigos.

Estou errado? Não, não estou. Eu quero entender!

Minha segunda dor: querer me afastar de quem eu amo.

Aliás, minha grande crença é em “Deus” – o chame como quiser, assim como eu -,

Parece ser um Deus diferente dos que ouço falar,

Mas fico feliz com isso; deixei a “fé” que possuo para depositar Nele e na vida.

Só isso tem sido as nostalgias das minhas noites em claro,

E as alegrias dos meus dias em preto e branco.

Ainda não sei o que pensam meus amigos sobre minha crença.

Procuro me esconder deles e aos poucos me volta àquela vontade triste:

Preciso ir embora! É disso que se trata o “esconder” deles.

Mas a força toda da vida vem daí, e não pensem que é pouca!

E tenho aprendido a observar cada detalhe assim.

E para contar a história do “esclarecimento”:

Um dia e parece que toda a fé mudou, ou melhor, se escondeu.

E disse: diga logo, preciso saber por onde andar, seus gestos me espantam, doutor.

Não precisa se limitar tanto assim a um diagnóstico.

Ter um diagnóstico não foi tão poético assim, Bandeira.

Calma, calma, os sentimentos são diferentes.

Imagine passar dias e dias, ou melhor, anos pensando diferente.

Mas aprendi que o tempo passa, e pra confessar, passa rápido.

Nada que umas dores no intestino não possam suportar.

Disseram-me que se chamava “vibrião”, a partir desse dia passei a ter um único inimigo.

- Doutor, porque não disse antes sobre o coração?

- Não foram mostrados os sintomas!

- Mas e a taxa de crescimento?

- Rara.

Por não bastar, mais um imprevisto.

Solidão, insônias, pensamentos distantes e muito sentimento; agora eu entendo.

Não sou maníaco, mas as conseqüências psicológicas me atraem.

- Você terá, em curtas palavras, o mesmo caos do “amor” – diz a psicóloga.

Foi interessante; consegui ver coisas que ninguém conseguira ver.

Agora eu entendo o que é morrer de amor, Shakespeare.

Se eu me chamasse Romeu, não seria trágico?

Sem querer me falei em tragédia, e ai então me lembrei de peças.

As leio, leio, folheio e entendo tão melhor (ou pior!)

Aprendi com alguns amigos a ironizar as coisas no caminho.

Desculpem-me, mas não poderia deixar de brincar com o poema da minha vida.

Não tenho mais medo de perder as respostas que possuo.

Eu fui a brincadeira e dela quis ser palhaço.

E se alguém se confundir, por favor, desfaça isso, não é raiva, é apenas parecido.

O mesmo nome tem tido tantos outros significados.

E eu embora complexo, tenho entendido.

Desculpem-me se tenho chorado demasiadamente,

Mas é que tenho estado ocupado tendo um pouco de medo;

Ainda me dou esse direito, já que o coração dói a cada dia.

E eu vivo esses dias na espera desse momento aflito.

Mas sei que um dia essa dor vai parar, e ficar para a eternidade.

Quanto ao epitáfio, só peço duas músicas, amigos e muito amor.

Os laços que eu não devia ter criado já não compete mais a mim;

O tempo que eu quis que passasse já não quero mais;

A dor que eu não queria, eu já entendo;

E as pessoas que eu quero por aqui, já permanecem.

Não sou um fingidor, mas tenho as dores de um grande coração;

Queria entender o sentido que existe pra isso tudo.

Porque dizem que sempre existe um sentido;

E eu já estudei, e li e não achei... Esse deve ser o mistério que me disseram.

Mas minha fé se renova, e agora eu quero todos meus dias de volta.

E entre insônias e conversas eu encontrei semelhantes, e o melhor, sem as dores.

Eles serão tudo aquilo que eu sonhei ser e eu já sou feliz por isso.

Mas entre as minhas incertezas eu sei que fui bem maior que merecia.

E por isso, a esses que admiro deixo algumas tranqueiras minhas:

Minhas músicas, poemas, livros, discos, violão, cigarros e uma vaga lembrança.

Vocês – todos – serão todas as minhas lembranças.

Mas por enquanto vocês são minha vida;

E aos que acreditam – se é que existe – eu garanto um anjo da guarda.

O primeiro, ou o oitavo, porém bastante menestrel e seresteiro.

Tudo bem, boêmio também, porque sei que vocês dormem tarde.

E que seja no tempo que for nós vamos viver

Eu sei que é triste e algumas poucas lágrimas rolarão;

Mas que sejam lágrimas de chuva de um dia de cinzas de festa.

E eu mesmo choro, choro porque tenho medo de pensar;

Que não poderei realizar tudo aquilo que aprendi a sonhar.

Nada que uns três dias numa varanda fria não resolvam.

- Calma amigos é só um pouco de cólera, um coração maior que o normal e muito, muito amor.