Ficção

A memória inventa-nos, abre-nos uma via para entrar num átrio de imagens – como escrevi. E o que foi que vivemos em qualquer jardim de uma luz coada. Olho pelos vidros, folhas arqueadas de árvores que não existem. E continuo na brevidade do dia, nada vai durar até ao fim.

Imprimo um mapa de lugares invisíveis – qual a razão? O mar que passa no aceno das aves, frases esperando os lábios do adeus, o delírio dos ombros na curva do crepúsculo. Fomos o que nunca fomos na noite azulada de conspícuas sombras.

Passear ao fim da tarde pela memória, velasse os olhos entre as áleas do vento e cumpro com rigor o roteiro das sensações. Não me afasto dessas imagens vertidas no destino, nunca se perde o hábito de lembrar a ficção de um dia.