Pulsação

Talvez eu escreva sobre o que não pode ser expresso de outra forma ; sobre o que está no recôndito do ser, salta das telas da memória... Natureza morta.

Escrevo sobre o que espia de longe, não quer aparecer, contemplado apenas pelo terceiro olho. Escrevo sobre o que fugiu, o que expirou de mim, ficou caolho ; sobre o que virou entulho no tear das palavras sem fim ou sobre o que está tão entranhado, que coagula o sangue, derrete a pele, contrai as pupilas. 

Escrevo sobre o que é cuspido com tintas, esculpido em argilas, o que só cabe nas entrelinhas.

Talvez eu escreva sobre o que não é possível calar, o que precisa suporar, sobre o que é visceral, arranha a garganta... Lâmina afiada nas cordas vocais, instinto animal.

Esrevo sobre o que meu globo ocular em sua miopia pensa alcançar, sobre o que o coração teima pulsar e não consegue negligenciar.

Escrevo sobre o que há muito tempo está em refluxo, enauseado, precisa ser regurgitado, expurgado, vociferado, sob pena de me manter entorpecida, enferma, permanentemente violentada. 


 imagem retirada de pesquisa feita no Google

poesia com registro de autoria


http://ursulaavner.blogspot.com




                              
Úrsula Avner
Enviado por Úrsula Avner em 03/04/2009
Reeditado em 03/04/2009
Código do texto: T1520424
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.