Bom dia.
Bom dia. Nenhum dia é bom, todo dia é um dia; respondeu maquinalmente ao receber o imprevisível bom dia de toda manhã. Por um momento se espantou de sua própria frieza, mas depois descansou os olhos na rotina de todos os dias e se compreendeu sincero. Toda manhã, o pior homem do mundo acordava, tomava seu banho e seguia em frente, mas sempre que seguia se sentia andando para trás. Movimento retrógrado. E no final, acabaria respondendo ao bom dia, acabaria participando daquela encaixotadora de palavras. Acabaria se esquecendo de viver. E assim é que seguia seu dia, sem viver pela manhã, morto pela tarde e sem dormir à noite. A única forma de viver era deixar de dormir, deixar de comer, deixar de ver as pessoas. Acabou deixando de desejar bom dia. Todo dia é um dia. E nenhum dia é bom.