O beijo e as mãos sujas
Ontem eu o beijei dentro do carro. Fazia um tempo desses, em que não se é calor, não se é frio, hoje em dia o clima se confunde com os sentimentos da gente. Pela manhã, não me lembro por que hora me ligaram, achei feio, pensei que ele gostasse até de mim. Me enganei.
Havia uns papéis confusos largados com o corpo, tudo levava a crer que isso nunca poderia ter sido evitado, nem mesmo por mim. Talvez se eu o tivesse beijado antes, ou, quem sabe, o tivesse negado antes, poderia ser o fim de seu fim. Não sei, não sei mesmo. O pessoal se bastava no “quem diria”, ficava só nisso, ninguém nunca imaginou que uma pessoa como aquela morreria pelas próprias mãos sujas. Nem mesmo eu pensei nisso. Ah, também a gente nunca pode conhecer o âmago de ninguém, não somos nós. Nem mesmo quando dormimos com a pessoa (acontece que não dormi com ele), é certeza de conhecê-la a fundo.
Ah, se eu tivesse sabido antes, poderia até mesmo ter tido um ataque de compaixão, faria amor com ele, o teria matado primeiro. Quem sabe, dessa forma, ele gostasse do meu beijo...