Orfeu sonhando Eurídice...

Foi assim, como num momento cósmico lunar de teu corpo,
que percebi a lua crescente se transformar em cheia,
e você surgir vestida no teu traje ancestral cheio de estrelas.

Todos os clarões estavam envoltos em sons de suave melodia,
e eu mesmo nem mais sabia se toda essa luz era de eternidade,
porque você estava numa tela azul refletindo como espelho,

esse teu rosto enigmático que agora surgia num ocaso casual
de uma tarde que se recolhia em suas vestes furta-cores,
como se estivesse se envaidecendo de não ser apenas manhã,

mas todo o despertar de uma noite que agora se inicia em mim,
como se a lira de Orfeu pudesse arpejar acordes veementes,
quando ele mesmo tangendo as cordas calava as sereias todas,

porque seu grande e verdadeiro amor era somente sua Eurídice,
aquela que nascida do ventre da luz...se servia da sombra de Orfeu, que por um feitiço provocado por sua beleza exuberante
e rara, agora estava preso ao cadafalso de uma paixão toda ilusão,
acreditando que se não fosse Eurídice, seu grande e único amor,
a vida nem mesmo valeria a pena de ser assim vívida e intensa.

Orfeuuu !!! Não olhes para trás...nãoooooo!!!
Não vês que Eurídice te segue saindo das sombras ?
Mesmo com uma Pandora querendo atraí-lo para lá ?

Não olhe para trás...porque o sol que brilha ilumina teu caminho.
Naoooooooooooooooo !!!
Por que você tinha de olhar...por quê ? Diz...

A lenda era clara...Você não devia olhar...nao devia mesmo...
Olha agora o que você fez pensando que ela não estivesse
bem detrás dessa tua paixão egoísta de narciso músico-poeta...

Ela se foiiiii..e você...só você é culpado de não seguir a regra,
tão meridianamente simples do não olhar de jeito algum para trás.
Chore... chore simmmm...narciso narcisista de amor descuidado.

Você não sabia que havia apenas uma Eurídice para salvar?
Orfeu então começou a cantar com sua lira de ouro puro,
e seu canto melodioso abafou os cantos das sereias profanas.

Percorreu as imensidões das noites estelares até chegar lá,
onde quieta e calada Eurídice era um monumento de puro sal,
preso às trevas mais escuras ...possíveis e imagináveis.

E nessa noite de todas as noites...Orfeu apenas sabia cantar,
e sua melodia era tão poderosa que Eurídice, estátua de sal,
começava a desfazer-se dessa roupagem branca salitrada,

e voltava à vida como uma fênix ressurgindo das cinzas,
até se transformar num grande espelho azul celestial,
que Orfeu com seu ginete alado cavalgava até o fundo...

Eurídice estava lá....Orfeu estava lá...
E eu daqui olhando este imenso céu... só podia mesmo ver...
duas lindas e brilhantes estrelas...

E tudo era apenas... um sonho colorido...

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Poesia feita por mim, Cássio Seagull,em 10-03-09 às 21.30 h SP
Lua Cheia (inicia hoje) – sol meio nublado – 26.7 graus.
Beijos e abraços para você...Boa quarta...
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