Pra mim inteira voltar

Prólogo:

"Meu coração não mudou. O coração de meu pensamento não mudou. Evoluiu, decerto, com o que me ensinaram meus mestres e meus livros. Evoluiu com o que me ensinaram meus alunos.

Evoluiu com o que a trama da vida me ensinou. Mas evoluiu como quem sobe os degraus de uma escada, mas levando consigo os degraus já galgados.

Evoluiu, não como quem acrescenta conhecimentos a conhecimentos, mas como quem realiza a comunhão desses conhecimentos, fundindo-os num só conhecimento de nível mais elevado, conjugando-os para que formem um só todo, uma só organização, uma só melodia." Goffredo Telles Jr., in "A Folha Dobrada - Lembranças de um Estudante" (P.125)

Sangrarei muito, ainda, mas entenda que mesmo sangrando em excesso... isso já não dói mais. Acostumei-me à dor, ao sofrimento, ao descaso, abandono, ao escárnio, por isso não choro mais quando alguém, inadvertidamente fala seu nome, quando vejo em outra pessoa um gesto igual ao seu, outrem falando em você, quando imagino estar dizendo que me esqueceu, que tem outro amor.

Eu sei que lhe perdi para um alguém e por isso não durmo mais, só penso em você, estou me acabando, emagrecendo, mudando de aparência; desgasto-me, sei disso, mas nunca mais volto atrás no que decidi por ser pertinaz.

Seu desprezo foi demais. Eu não merecia tão forte vilipêndio. Seu amor, santa adorada, sabe Deus, onde foi parar. Fui eu quem errei? Aceito. Tudo bem. Sempre soube pelos outros que sou apenas mais um em sua extensa lista dos incompetentes e incapazes.

Nessa noite e madrugada de 25 de abril eu sonhei com seus olhos melífluos olhando meus olhos, entre as sobrancelhas, olhar fixo, dizendo sem falar: “olhe no que deu o nosso amor que seria sem-fim. Você não o quer reconsiderar? Quero e muito desejo pra você voltar".

Eu não ouvia o som de sua voz aflautada dizendo nas entrelinhas da mensagem que queria voltar mas compreendia seu espírito assomando meu sofrer e dizendo que se arrependeu, implorando para eu de volta e de forma incondicional lhe aceitar.

Estou morrendo sim, não apenas de saudade, mas principalmente da falta de suas mãos, dos seus dedos buliçosos, de sua boca ávida, de suas coxas aveludadas, de seu abraço mais atrevido, de seu perfume, de suas dobras de pele macias e perfumadas... por favor diga-me que minha dor chegou ao fim e que você vai voltar toda e inteira só pra mim.

Entre todas as mulheres vejo-a a sorrir. Todos os dias sua ausência me persegue aonde quer que eu vá. Você está sempre presente e isso eu não sei lhe explicar. Não sou ninguém. Eu nunca lhe enganei, não menti, pra depois você descobrir que tudo acabou antes mesmo de iniciar.

Estou sem crédito ou simplesmente desprezou meu amor por um incerto e pouco dedicado momento de lascívia? De satisfação pessoal e/ou econômica? Vou me odiar, mas sei que nessa bendita noite de 24 de abril de 2009 eu sonhei e sorri: você vai para mim inteira voltar.