AMOR LÍQUIDO

amor de lei

e papel

ou de coração e coragem

sem convenções

formalidades legais

ateu

amor sem ritual religioso

carimbo

amor eterno enquanto

duro

enquanto dure

amor que fique

ou que se finque com prego e martelo

amor de concreto

argamassa e vidraças

amor de ferro

ou que vibre

e se liquidifique

e escorra

amor maleável

lavável

e que de novo se recicla

amor fiel

de fel e amarras

cadeados e horários

ou amor de nuvem

que cai sobre

amor que navegue

naufrague e submerja

à tempestade

amor inseguro maleável e estranho

que escorre

irresistível e temerário

amor que duvide das convenções

ou aquele que sobrevive nas canções

apenas

romântico e ideal

amor de prazer

carne, suor, gozo

amor líquido

ou amor de igreja e família

amor de unir-se ao outro

ou a si mesmo

amor prático

na rápida eternidade

derepente

amor para sempre

mas que à frente se esvai para o ralo

ou amor pra rever e ser revisto

inseguro

inconstante

que até se adiciona

mas não multiplica -ou a isso não visa

um amor que muda o rumo da relação

que venta e balança

que se aglomera

evapora

sobe e cai

e de novo se recria e vai...

......

O título arremete ao livro do sociólogo polonês Zigmunt Bauman, que define um conceito de amor apropriado para um sentimento que não se submete docilmente a definições. Defende que o mercado de consumo vem modificando o conceito de Amor Sólido, que é baseado em formalidades e leis com a idealização de que o relacionamento será “eterno” ou “para sempre” só porque está firmado em documento ou porque a igreja assim o determina.