Apenas Amor


Os sentidos farejam os mais disfarçados e inodoros cheiros de Homem e Mulher. O Coral de hormônios entoa um canto qualquer que ecoa nas capelas dos poros, enquanto são contados um por um. As carnes gustativas viram passas nas bocas ressequidas. Beijar agora é mister. Os lábios dos olhos se fecham e uma mão esquecida vai até onde puder, conforme as licenças, boas vindas e fronteiras caídas. Içam-se as velas. A loucura chega, o medo se aterroriza e foge das vidas. Não há mais humanos... As duas bocas secas realizam o milagre da multiplicação da água e inundam-se mutuamente. As peles falam, se chamam, estremecem e mal mal se tocam em frágua, o mais delicadamente... O sangue é quente, cora os rostos e intumesce os bicos vermelhos de damasco. As algas pilosas se eriçam à aproximação e somem os meios. Um é perfume o outro frasco. O Amor gigante nos toma nas mãos e agita vigorosamente vaso e conteúdo. Ilumina-se o ambiente. Por vezes nos perdemos, desencaixados, mas não falha o tato mudo e nos encontramos novamente. Os ventos da respiração enfunam as velas do barco que segue e navega para águas ainda mais desconhecidas e profundas. Não parece certo que o barco vá agüentar até o final da viagem. A tempestade é violenta, as ondas são muitas, mas os hábeis “capitães-de-amor-e-paz”, no timão e com coragem, nos negamos a ancorar as nossas criaturas desejosas que, apesar da velocidade dos movimentos, não queremos trazer o destino para mais perto. Não importa que morramos para salvar o outro. Somos compreensivos e generosos. Por isto andamos, de propósito, em círculos, sem bússola e sem estrelas e o que nos desorienta mais são os nossos “astros lábios” com os beijos mais molhados de sensualidade. Mas sabemos bem o momento de chegar ao porto certo. São horas degustando os carinhos um do outro, que são emprestados com juros abusivos e incessantes para serem pagos “a prazer”, com as cobranças e leis do mercado revogadas, porque a relação é de troca, num recém selado pacto de desavergonhados amantes.
O frêmito avisa e a montanha se prepara. As comportas nuas já vão se abrir... Explodem os vulcões. A lava escorre nos dois elementos derretidos que se combinam. A sorrir os olhos se beijam enternecidos e se agradecem. Se fundem os Corpos e Almas... O sexo sofre solitário e, incompleto, sente inveja porque não pode empreender as viagens de descobrimento. Sem a estrutura do Amor ele é barquinho de papel - ótimo para brincadeiras em laguinhos de chuvas passageiras de excitação - que afunda muito cedo, ainda na costa dos voluptuosos mares das indescritíveis e intermináveis ondas de delirante prazer. Neste mar-vivo só navegam e resistem as Almas tocadas pelos ventos violentos da paixão; como as nossas que, apesar de contarem com velas diferentes, se doam e completam em um único velame e, infalivelmente, chegam seguras e juntinhas ao destino com rico tesouro, que não é pirateado e sim construído artesanalmente a dois. O tempo pára. Para que servem passado e futuro, se acabamos de receber nossos presentes? A distância morre porque, loucos, estamos internados um no outro, voluntariamente incuráveis. O Universo goza porque o todo sente e responde quando o Amor se faz completo e perfeito...






 
Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 02/05/2009
Reeditado em 04/06/2014
Código do texto: T1571103
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