PÁSSAROS PRESOS....

PÁSSAROS PRESOS...

Não vejo mais aquele caminho ensolarado

que um dia fez parte da minha vida feliz...

Manhãs, tardes e noites acendradas...

Horizontes sombrios, como me parece será

cada dia seguinte... A beleza das coisas, do

mundo, desapareceu; a indiferença a tudo

tomou conta de mim por completo, sinto - me

apenas um zumbi, sem vontade de nada, a

partir do instante em que senti que te perdi...

Cortinas líquidas escorrem nas janelas, como

as lágrimas que descem marcando meu rosto,

mas o ribombar dos trovões não surtem nenhum

efeito, em mim, pois as lembranças são ainda

mais ruidosas, pássaros presos que mesmo que

eu lute, não consigo libertar...

Cada noite de insônia, onde seu rosto se faz

presente em minha memória, cada linha que

carinhosamente tracei, com meus dedos, como

se intuísse que, um dia, seria apenas o que teria:

A recordação, a sensação de ainda ter, sob eles,

a maciez, o calor da tua pele, das sobrancelhas

espessas e negras, dos teus olhos que me olhavam

com ternura e profundidade, como se também me

quisessem guardar na memória... Oh, Deus... Era

como se pressentíssemos que a vida iria nos separar,

que aquele amor não resistiria à tantas provas... Que

um dia me irias deixar... Meu peito parece que vai

explodir de desespero, contendo o grito de revolta,

de dor, de tristeza, incompreensão pelas injustiças!

Dentro das grades invisíveis que hoje me cercam,

é como se uma bruma me envolvesse, isolando de

tudo... Ouço tua voz, sinto teu cheiro, teu toque ...

Teu beijo... Teu beijo!! Ah, tua boca, minha fonte

de emoções, antesala das minhas fantasias, das

minhas loucuras... Onde tudo começava!

Silêncio sepulcral... Solidão de campo santo...

De repente, o grito aprisionado eclode do peito,

retumba pela calada da noite, corta seus mistérios,

acorda seus fantasmas, abala sua calmaria...

Grito teu nome misturado às minhas lágrimas,

embargado pelos soluços profundos que me fazem

estremecer como uma folha pequenina e frágil,

perdida dentro de um furacão, um furacão

inexorável, cujo nome é saudade... Mas não me

respondes... Outra é que hoje ouve tua voz...

É como se eu nunca tivesse feito parte da tua vida,

não fosse parte da tua história...

Deito - me, encolho - me todinha, um desejo imenso

de poder retroceder no tempo, voltar para o lugar

de onde vim... Impossível, eu sei, e então, peço aos

céus que ao menos me façam desaparecer em meio

ao oceano de um sono profundo e não me permitam

pensar, lembrar, mais...Nunca mais...