Desatinos, amor e política

TUDO DESABA

Você se esconde em mil e um argumentos, fala do vento, fala da morte, fala da sorte. Diz que me ama e me chama na madrugada, me afaga, me beija, me enseja, me laça, abre-se para mim, mas depois se vai. Diz que seu tempo é escasso e raro seus minutos. Deixa-me à espera, naquela do bom porvir, do que pode acontecer, e aí, não presta: o mundo desanda, parece que tudo vai ruir, o sistema financeiro -ciranda da bolsa, a onda de falências, demências deste tempo.

AMOR & POLÍTICA

Sei que não deveria misturar as bolas, a sintonia, os canais, amor e política, mas com a gente é assim: tudo junto, agora. Sementes de um novo mundo, a revolta, o vôo do pássaros e o aço das construções. As canções perdidas, os poemas, os amores falidos, o cão que late, enfim. A luz no fim do túnel, uma simples lanterna, o mato que cresce, a esperança junto, na dança da solidão na cidade lotada, a vontade de mudar tudo, inverter rumos. A gente se encontra se toca, se trança, se lanha, morde e chupa-se, no meio desse mundo intenso, suspenso no ar.

UNS NA PELE

Tudo pode ser poesia, uma canção, se tiver sorte, mas melhor é o seu amor quando pode me acontecer e acender as luzes da cidade, pondo fim ao caos dos meus pensamentos anárquicos, difertente de quando me inspira para o precipício, como quando me deixa no “pause”. Isso não presta: viro letra vagabunda, bolero de boate de caís, uma treta irresoluta, uma labuta, uma história a construir. Mas isso tudo é só um redemoinho na minha cabeça, que se esvai como página lida de um livro rápido, quando me liga, me chama, me leva pra cama e me abre as pernas e marca com seus dentes, com as unhas me rasga a pele.

SONHOS PERDIDOS

Eu sei que nem tudo é onda, que é sincera quando me diz que não há confiança cem por cento, que homem é tudo igual, que um lhe fez mal etc. e tal, a velha ladainha do ciúme, da posse, da insegurança. E que não quer mais o amor, que a dor é sempre uma rima, uma fissura perto, terremoto, que o certo é relativo, que há motivos para o sim e para o não, que nem todas as canções são belas, que há protesto, revolta, revolution, que tem Bob Dylan, Rolling Stone e todas os sonhos feridos, entre mortos e feridos de um certo tempo. Etou vivo e te quero perto, é certo.

SOSSEGO E PAZ

Porque eu misturo tantas letras, nuances diversos, poetas diletantes e amores rasgados, amantes perdidos num velho tango e os elos partidos de um rock rascante? Sei que fico no desespero facilmente e logo me curo, mistura cosmpolita do caos. Sei que o mundo é e será, sempre, cruel e sincero, que tudo é quase zero e pouco resta para evoluir. Para que a pressa? A quem interessa o fogo na mata, o degelo dos pólos, a química no cérebro. Nada nos resta, senão o carinho, proteção, o mesmo instinto do pássaro: fazer o ninho e trocar beijos, tocar a pele, o arrepio de um momento de afago. É por isso que lutamos: pelo sossego e a paz ao seu lado, é o que quero.

SÓ TE QUERO

No mais, para que serviriam palavras, se o amor fosse impossível e a desconfiança predominante, como é, se a mina não tem mais água pura, se tudo pode ser risco, se a droga corre solta na veia e o vírus percorre as artérias do mundo? O que isso tem a ver comigo e contigo: tudo. O nosso amor é um torvelinho e vivo nele, assim, no quarto caminho. A sua entrega, o aconchego do teus braços, ficar perto, presente, num laço contigo, correr perigo: assalto no semáforo, o dia-a-dia, o trabalho, a crise, o riso pouco, o sufoco de não saber terminar ou não ter como, de repente. Tudo junto.

O SOL COM VOCÊ JUNTO

Fico por aqui, boa noite, bom dia, que a alegria prevaleça um dia e o nosso amor seja mais fácil, de verdade, que não haja risco, moral que impeça, que tudo seja tal e qual a realidade, só verdade, e que eu resista neste caminho, mesmo que tenha que fazer reza para nossa senhora das cabeças e pedir sossego, prumo e tranquilidade para esperar o amanhã com sol e você junto.