O e-mail

Olho minha caixa de correio particular sem muito interesse. Os e-mails são de amigos, algumas ofertas e gente que não sei onde encontra meu endereço. Olho rápido e vejo o nome dele. O poeta que amo. Amo? Sim. O que é o amor senão a entrega, esse carinho ofertado? Diriam que é um amor incondicional. Não, não é. Não creio no incondicional. É amor de troca, porque sei que ali encontrarei um momento de paz, um pouso para minhas asas, um encontro do desejo com o que me vai no coração.

Penso no tempo perdido com Orkuts e outras bobagens. Não me dou a esse desfrute. Odeio Orkut e similares. Acho inútil, coisa de malucos que querem aparecer à qualquer custo. Gosto sim, desse afago que me chega pelos bites e que me é dirigido. Apenas a mim. Sim, sou possessiva. Quero e tenho e, se quero e não tenho, vou buscar. E se quero, tenho, me dou por feliz. Esse ter, nem sempre é palpável, às vezes ele viaja em eras estranhas ao que conheço, mas é um ter pelo que me oferta, pelo que me basta.

Leio as palavras de carinho. Palavras que já foram ditas mil vezes a tantos rostos, a tantos corpos, a tantas mulheres diferentes, mas essas são dirigida as mim. Então me pertencem. Me aposso delas como os gladiadores se apossam da alma do guerreiro tombado. Lambo o sangue da espada. Deixo que leões e cães se encarreguem do corpo caído. Olho os cane corsos brigando, rangendo os dentes por um naco. Me sinto assim. Oferto o corpo do outro e ando pela arena com os ombros erguidos, o nariz empinado e volto ao convívio manso das ovelhas. Não, não conduzo as ovelhas. Estou entre elas; mansa e seguindo o cajado que bate num toc-toc junto aos latidos de cães de caça. Outros cães.

Algo em mim se transforma quando o sol começa a se por. Meus bichos noturnos se movem na boca do estômago. Sou notívaga e as borboletas na barriga querem ver a lua. Elas não querem flores, nem o azul do céu; preferem o negrume da noite. Meu pelo se torna mais escuro e subo a montanha onde um lobo uiva por mim.

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