Amor de Alas

I. Ela proba.

Que se via ao longe, era a manhã com a cara inchada, preguiçosa pra acordar

Via-se a luz dourada entre as nuvens, pelas montanhas a se explanar,

E pelos braços torcidos das arvores enormes a se espreguiçar

E o dia nascia quente, e harmonioso, como todos os dias, dias bons...

Talvez os dias fossem bons, ou talvez ela que os fazia tanto assim

Tecia as manhãs com as próprias mãos que nunca maculara,

E com a boca rosada as chuvas chamava, pra acalmar o dia quando seco

Verde eram os campos que se perdiam de vista, que não se encontrava o fim....

Como toda ela, a deusa, não tinha fins a seu amor-de-todos, por todos se dava

A todos se amava, sem saber que além das montanhas era muito desejada

Era fruto de olhos pérfidos das cordilheiras que te vigiavam, e ela ria, e ria...

E com os pés na margem ás vezes cantava, de alegria, por ser tão pueril

Era perfeita por nunca ter maculado, mas duvida-se se isto é mesmo perfeição

Ou se os pecados fazem parte da vida, como os erros que temos que cometer

Como as mentiras que precisamos saber, sobre o que fazemos pra sobreviver

Sobre o que penso eu, sobre o que pensa você, ela era perfeita por ser pura.

II. Devaneios de uma deusa.

No banho de um anjo, surge os devaneios de uma deusa perfeita

Que de tão perfeita só peca por amar... Por ter paixão, por admirar

O que não pode admirar, de transpor as barreiras da pureza guardada

E transbordar como nas cheias do lago, pelo braço do rio banhado

Águas dela e por ela antes tocada, estava lá o anjo novo de lama

Entre as águas adoradas, mas não mais adoradas que o alado

Sonhos viam na cabeça da deusa que nunca sonhara, só vivera

Já que pra ela viver era sonhar, talvez por estar no ápice da candidez...

Sem conhecer as naus pelos caminhos da paixão, correnteza...

Arrasta seu pensamento todo majestoso pra uma única coisa simples

Asas molhadas da penugem branca, como a lua que o dia prometia

Ela que sempre esperava a lua assim, a lua lhe surpreendeu,

Um prateado intenso sua amiga da noite lhe deu, e o anjo

Ainda a se banhar, só viu a lua a deusa, num instante vago de olhar

Seus olhos eram fixos como seu amor por todas coisas

Seu amor por tudo e por todos, fora estes anos tão puro... e intenso.

Nada comparado a tamanha paixão que invadira o seio doce

E a virgindade luminosa de seu coração, queria dar sua alma, mas

Não o podia fazer era coisa desconhecida, era coisa por quem morreria

Mas era a razão da sua vida, Anjo sem nome que muito amor lhe deu...

Não tinha nome como os que ela Dara as coisas do seu paraíso

Flor da amizade, flor da maravilha, flor-branca-do-amor, flores, pétalas...

Ao redor do anjo seu amor se sustentou, com a voz afável como

Quase um canto sua vontade se ratificou,... olá...

III. Cantos múltiplos, cantos últimos.

Sob a revoada de anjos dos quais há tempos se perdeu, a luz dos olhos

Do alado, à íris serena se converteu, à deusa amor-perfeito, como a algumas

Flores que a divina nome deu, e na aquarela que tinha o céu como tela

Viu-se do anjo um sorriso grande e solto, e a deusa de todo seu posto, se rendeu.

Era um anjo novo, e muito agradável, seus cantos iam além dos limites daquela

Terra, escrevia à deusa mil palavras desesperadas e todas suas súplicas

Profundas, seus desejos verdadeiros, nascidos naquele pequeno coração

Coração novo que ainda nem sabia o que era amar, não tem explicação, diz anjo,

Flores do amor, pétala por pétala és apenas uma flor, Oh, salve os pássaros

E os quais amo tanto, dizia a deusa pra si....Mas salve também um anjo, meu anjo

Pra ti me prometi, era o suplico da deusa, que nunca amara como paixão

Que só amara com a doçura, e nunca com o fervor de seu coração...

Pra ti sou todo também, mas contigo não posso eu ficar, por caminhos meus

Vou eu, por caminhos teus, vais lá... Veja as asas que tenho, a ti não posso amar

Salvo que eu renuncie a minha asa, e você o teu reino me dar... Que amemo-nos

Pra sempre antes que algo a ti aconteça, dizia o anjo com suas notas a cabeça

Anjo meu, o amor meu é, mas não pode ser seu, sou fruto desta terra e a ela

O amor eu devo, assim como eu me tenho e creio, a lamentar... Estou eu confusa

Minha mente a pensar, como posso à terra dar amor a ti também amar?

Banha-se no lago meu e minha alma de ti se quer banhar...

Podemos nos amar sem uma outra ou vez nos tocar, em meus diversos anos

De vida não pude imaginar, que por um anjo agora nascido me ia apaixonar

Agora o que faremos nós, diante da justiça sem leis? Por nós mesmos advogar?

Fale-me anjo como disto me libertar, anjo que não é meu...

Deusa minha, tira-me as asas que me vou a voar, pros teus braços primeiro

Me vou atirar, vou pra o alto de uma torre sem sol.... E a Luz da noite me lançar

Venho ver tu nos sonhos teus à noite quando estiveres a descansar, aceita-me

Nos teus sonhos que te faço verdadeiramente a mim amar, terminamos sobre

As nuvens que minhas asas já não alcançam por não estarem cá...

Deusa minha só sem minha alma, deste ônus vou poder me livrar

Já que não posso voar contigo, pra que minha asa há? Luz é forte agora

Através dos vitrais da solução, quando a partida é nossa única saída

Devemos usar nossas alas na partida, o sem elas da alma se libertar.

IV. Sonhos

Os sonhos prometidos, durante primaveras em dezenas não se realizou

Só sobrou da paixão a saudade que ficou, e o anjo que deu-se no chão

Sua alma aos céus desconhecidos subiu, e nunca mais se viu

Nos sonhos da deusa, uma paixão inexistiu, a deusa já não mais dormia

Seus prantos eternos ao sono despedaçou, suas lágrimas agora são

Mais um braço do rio da solidão que na nascente de seu amor impossível

Existiu. A deusa que hoje chora é por quê um dia já amou, será que nossa

Vida é não amar pra não sofrer? Ou sofrer pelo amor que não ficou?