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LÁGRIMAS ESCONDIDAS
 
 
Sentimentos múltiplos desfragmentam a alma, reproduzindo dores num silêncio polifônico. Mas, às vezes, não é possível gritar. São as dores da metamorfose de uma realidade já distante, de momentos que duraram apenas alguns instantes.
 
O tempo não para, já disse o poeta. A linha da vida não é uma constante. A emergência das  horas  é o contraponto de encontros e desencontros tecendo,  na tela do caminho, grandes alegrias e depois saudade.  
 
Muitas chegadas roubam-nos a lucidez e, nos devaneios, inventamos sonhos. Todos de uma só vez. Sonhos poéticos, proféticos, épicos e até patéticos. Qualquer bobagem vira bagagem para uma grande viagem. Os pensamentos voam alto e os pés saem do chão. A  felicidade vira um movimento que nos tira do isolamento, povoando o universo, antes  meio apagado, de todos os significados. A alegria flutua livre de motivos, regras e rituais. Diante de nossos olhos, as desordens da vida ficam todas em ordem, inexiste crise de identidade. Tudo fica inteiro, multiplicado, intenso. Tudo vira impulso, tudo fica perfeito. Nada é pecado. O mundo vira mundos, qualquer barulho - melodia, qualquer frase - inspiração, qualquer palavra - poesia. E como é bom desfrutar desse prazer que se faz sol  e aquece a alma a cada amanhecer; que se faz lua mansa e ilumina a nossa divindade.No nosso imaginário, pensamos, então, termos em nossas mãos o controle da vida, termos guardada, a sete chaves e para sempre, a tão sonhada felicidade.
 
Porém, o tempo em seu rumo é galopante, repleto de múltiplas facetas, alheio e totalmente distante de nossas manipulações, para que sejam eternas todas as boas sensações. E não pára não. Quase imperceptivelmente, nos distancia de pessoas, sentidos, caminhos, abrindo novos horizontes, novas paisagens,  novos exemplares de realidades, confundindo nossas emoções.  Os sonhos, já fora de sintonia, transformados em utopia e até numa leve fobia pelo medo dele acabar dentro de nós, viram feridas doídas e roubam-nos a auto-estima e o gozo pela vida. Transformados em pobres diabo,s, e relegados ao abandono, os sonhos não são mais sonhos, nem têm mais significados. Os dias são portas fechadas. Os tons e os sons bandeiras arriadas. Numa imagem simplificada, a distância das coisas amadas são imagens desfocadas daquilo que gostaríamos, mas não podemos mais ter. E mesmo não nos sendo segredo a pressa que o tempo tem, sempre nos causa surpresa   a partida de alguém que queremos bem. E nessa hora de caos, com alma indefesa diante da distância sacana, ei-las que surgem em nossos rostos, como um cristal brilhante, lágrimas escondidas, revelando-nos  inevitávelmente  o tão temido e duro fim.