É trama, amor
É trama, amor
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Eu posso esperar.
Meu deus, eu posso esperar tanto
por tudo aquilo que se passa
dentro de mim.
Espero que seque
esse mato rasteiro;
que se espatifem
os que não me entendem.
Espero que não seja necessário
nenhum tiro, nenhuma palavra
para trazer de volta
o que não tenho.
Eu quero tentar chorar de pé
sem que descuide de perceber
que tudo é vazio e cômico.
Eu quero o coraçãozinho limpo,
embora saiba, que se ficar sentado,
ele se vai,
e se for procura-lo,
ele não existe.
Que agonia ter descoberto
as coisas complicadas
e saber-me impotente
para desviar-me delas.
Consumir-se-á meu último suspiro
em meio ao desespero
de jamais ter tentado.
Juro à ilusão
que dos sonhos meus
não afastar-me-ei.
Seguir, seguir,
enquanto não hajam inchado
meus pés. Depois...
Depois é só o que eu desconheço
e para o qual não sei preparar-me.
Quem é que pode surgir
trazendo com carinho o meu sonho?
Quem é que tem a fantasia bonita?
Venha, venha por favor dizer-me,
antes da aurora, ou alguém tão forte assim
queime a minha retina.
É a minha simplicidade que sufoca-me,
pois falta-lhe algo tão simples
que eu desejo e não procuro
e a mim não vem.