Para Germano
Para Germano
27 outubro 88
A minha divida maior
É ser eu mesmo quando ninguém vê.
Isso não é nem mesmo uma confissão,
porque se fazer tanto esforço diário
para contentar-me, se esperar apenas
que a beleza me reconheça
e não troce de meu sono,
e se esperar
(mesmo sabendo da inutilidade disso)
pelo sol (mesmo sabendo que é dia),
tudo isso é viver?
Então porque deve levantar-me
novamente e chorar de alegria
porque o Senhor Sol retornou?
Quem sabe eu devesse mesmo
é levantar o volume
da música matutina e lançá-la
ao Universo como um desafio
de que compreendam-me imediatamente
e dêem-me o prazer de não compreendê-los.
Já disse o quanto é inútil,
mas amanhã algo voltará a brotar
e eu transformar-me-ei em seiva.