Agonia.
Amanhã não mais existirá o nosso galo.
Será tragado pelo esquecimento.
Apagado pela cor de terra vermelha.
Nossa despedida foi imensamente triste.
Chegamos e ele não veio, como de costume, ao nosso encontro. Ficou estendido perto da entrada para o terreiro.
Pensei, imediatamente, que estivesse morto.
Depois abriu pela última vez o olho amarelo. Já não enxergava nada.
Enquanto isso as galinhas esperavam o milho impacientes.
Nós também sempre esperamos algo.
Jogamos a quirela em profusão e todas elas comeram avidamente. Nenhuma preocupação com o velho.
Aproximei-me e joguei um punhado bem próximo do seu bico. Ele deu uma bicada que parecia um suspiro e catou um grão como se fosse todo o seu passado de rei do terreiro. Continuava com suas penas longas cor de laranja envolvendo seu pescoço como um cachecol. Estava magro e não trajava seu élan preto.
Temos realmente pouco tempo para cantar e somente ciscamos.
Aquela carijó, por exemplo, que sempre foi a sua preferida, passou e continuo ciscando.
Anoiteceu e o moribundo teimava. Todas subiram, todas sumiram; peguei-o com nojo, coloco-o no galinheiro e encosto a porta para que a solidão não escape. Ilusão.
Descemos pensando no seu substituto, um frangote preto, com prováveis penas, cor de fogo, que envolvem todo o seu pescoço...
Matheus Marques Nunes.