Agonia.

Amanhã não mais existirá o nosso galo.

Será tragado pelo esquecimento.

Apagado pela cor de terra vermelha.

Nossa despedida foi imensamente triste.

Chegamos e ele não veio, como de costume, ao nosso encontro. Ficou estendido perto da entrada para o terreiro.

Pensei, imediatamente, que estivesse morto.

Depois abriu pela última vez o olho amarelo. Já não enxergava nada.

Enquanto isso as galinhas esperavam o milho impacientes.

Nós também sempre esperamos algo.

Jogamos a quirela em profusão e todas elas comeram avidamente. Nenhuma preocupação com o velho.

Aproximei-me e joguei um punhado bem próximo do seu bico. Ele deu uma bicada que parecia um suspiro e catou um grão como se fosse todo o seu passado de rei do terreiro. Continuava com suas penas longas cor de laranja envolvendo seu pescoço como um cachecol. Estava magro e não trajava seu élan preto.

Temos realmente pouco tempo para cantar e somente ciscamos.

Aquela carijó, por exemplo, que sempre foi a sua preferida, passou e continuo ciscando.

Anoiteceu e o moribundo teimava. Todas subiram, todas sumiram; peguei-o com nojo, coloco-o no galinheiro e encosto a porta para que a solidão não escape. Ilusão.

Descemos pensando no seu substituto, um frangote preto, com prováveis penas, cor de fogo, que envolvem todo o seu pescoço...

Matheus Marques Nunes.

Marques Nunes
Enviado por Marques Nunes em 29/05/2009
Código do texto: T1621210