Borgheto
Borgheto
Primeira quinta feira, junho 1988
Eu não sei porque tudo é assim.
Sentar aqui e ali.
Ouvir e dizer coisas dispersas,
e então um dia acordar de mau humor.
E então um dia descobrir-se falso nos outros.
E então um dia
somente a solidão por resposta.
E então um dia, a noite.
Mas está claro
que o mundo é cor de rosa.
Tão bonitinho ele e mesquinho ele é.
Pode até ser fácil
e eu sei que não tentarei.
Eu sei disso,
velha boca sem dentes.
Amanhã, se você morrer,
eu lhe procurarei.
Amanhã é longe e difícil,
mas só amanhã
tem solução para mim.
Para quem sonhou muito
que espere o dia passar
e diga com deboche:
- Um dia só a noite,
tanto para mim como para ti
Não há + flores.
Túmulos vazios é que gritam:
- Porque a separação?
Um dia é noite, se possível,
de estrelas.