Poesia e morte.
Encontrei Joaquim, o gato sem bigode, abandonado, faminto e com uma orelha só, numa fria tarde de Julho. Ventava muito e seu rabo era a corda de um enforcado.
Levei-o, na tentativa de salva-lo, porém, António, meu cão e Clarice, sua esposa irmã, foram os responsáveis por sua morte.
Aqueles dentes pontiagudos e serrados o dilaceraram impetuosamente. Cães, sugadores de sangue e miolos. A revelação das suas entranhas sem nenhum constrangimento. Puro contentamento.
Ele, frágil criatura, escalou o impossível. Cambaleante e exausto na tentativa de salvar seu último projeto.
Tudo vaidade, morreu sem poder dizer adeus e sem nenhum aceno.
Gelo derretendo sob o sol da Guatemala.
Miados de crianças famintas no Jardim do Trevo.
Gritos e nada acontece.
Sombras encobrindo a paisagem que prometia tanto.
Uma bigorna num quarto fétido, sem passado, presente e futuro.
Tristeza de matar rimas de amor!
Morreu sem rosto, como tantos outros.
Matheus Marques Nunes