Poesia e morte.

Encontrei Joaquim, o gato sem bigode, abandonado, faminto e com uma orelha só, numa fria tarde de Julho. Ventava muito e seu rabo era a corda de um enforcado.

Levei-o, na tentativa de salva-lo, porém, António, meu cão e Clarice, sua esposa irmã, foram os responsáveis por sua morte.

Aqueles dentes pontiagudos e serrados o dilaceraram impetuosamente. Cães, sugadores de sangue e miolos. A revelação das suas entranhas sem nenhum constrangimento. Puro contentamento.

Ele, frágil criatura, escalou o impossível. Cambaleante e exausto na tentativa de salvar seu último projeto.

Tudo vaidade, morreu sem poder dizer adeus e sem nenhum aceno.

Gelo derretendo sob o sol da Guatemala.

Miados de crianças famintas no Jardim do Trevo.

Gritos e nada acontece.

Sombras encobrindo a paisagem que prometia tanto.

Uma bigorna num quarto fétido, sem passado, presente e futuro.

Tristeza de matar rimas de amor!

Morreu sem rosto, como tantos outros.

Matheus Marques Nunes

Marques Nunes
Enviado por Marques Nunes em 01/06/2009
Reeditado em 18/09/2009
Código do texto: T1626812