Degrau
Degrau
“Porque não nasci eu,
um simples vagalume?”
Machado de Assis.
Eu vou indo
pelo jardim dos homenzinhos,
colhendo sentimentos pequeninos.
Desgraçadamente sou um deles
e as flores que recolho
sem aroma, não mentem.
Mas eis que anoitece no jardim.
Quem fechou o sol lá fora?
Quem aprisionou-me
nessa vereda de lua ‘cirótica’?
Mereço-te, podre solidão.
Hoje foi-se lindo o dia
e onde eu estava?
Aqui em meu quarto
as janelas gargalham
e não são de alegria
as suas noturnas risadas,
mas carecem de sentimentos
e por isso, zombam de mim.
A cólera se desvanece e se alastra.
Prostituta de sentidos,
atreve-se em minha solidão
para Senhora fazer-se
dos instantes sem resposta.
Decrépitos degraus
de minha ‘inconscia’
escalada à ingratidão.
Decrépitos degraus
que já não são + degraus,
mas partes finais
de minhas doloridas pernas.
“Alegria impostor!”
grita em meu intimo
uma desconhecida voz.
E eu pergunto: Quem és?
E ela responde:
“Uma desconhecida voz.”
Nunca houve um pequeno riozinho
onde eu colocasse meus pés em descanso.
Se tive momentos tão alegres,
dormindo estava, certamente.
Há, em um amargo e inexplorado
canto de meu ser,
uma voz orgulhosa de seu saber,
E ela responde, quando pergunto: Quem és?
”Uma desconhecida voz.”