Se eu morasse com você...
Tanto você custou a aparecer na minha vida, que eu quisera gozar ávidamente, sem preconceitos e medida, o seu olhar profundo, a sua voz tão doce, enfim, todo o seu ser, como quem pobre, muito pobre fosse, e um dia descobrisse a alma fremente, o mais lindo tesouro deste mundo.
Se eu morasse com você, não viveria assim tão triste e absorta, porque você é todo o bem que me conforta, porque apoiada no seu braço amigo, sou forte à humilhação como ao perigo.
Se eu morasse com você, todos os dias, quando o sol surgisse, com um gorjeio de meiguice, meus beijos o fariam despertar.
No final do dia, quando a casa regressasse como se não o visse há longos anos, com que alegria eu o abraçaria! Você traria um livro, às vezes uma flor, e eu lhe daria os meus versos de amor.
Mais tarde, o olhar no olhar até que o sono nos pusesse em abandono, nós dois repousaríamos juntinhos, num mesmo leito, unidos como em um ninho.
Desponta a aurora, a noite o espaço invade.
E anda sempre comigo esta saudade.
Mágoa sutil que me devora.