Um namoro

Ela entendeu o porquê. Queria a leveza dele, possuir sua irresponsabilidade adolescente, seu jeito menino de ver só cores onde outros veriam peso e tempestade. Toda a alma dela se envolveu no encanto daquela sedução, uma simples e ao mesmo tempo sofisticada entrega, sem medo de parecer exagerado, enfeitando com música frases adocicadas e imprudentes.

Só mesmo ele, pensou, para cobrir de flores esse terreno pedregoso. Só mesmo aquele jeito infantil para pintar de cores alegres (amarelo, laranja) o dia, qualquer dia. Só mesmo aquela aura sensual de homem feito para enlouquecer-lhe os sentidos. Só mesmo aquele desapego para tornar uma queda abismal a maior bênção dos céus.

Enquanto der prazer, enquanto tiver alegria, enquanto houver encantamento. Esse era o porém, tudo tem um porém. Daí aquele jeito etéreo de nuvem ao vento, que não conhece amarras e ao mesmo tempo prende forte, com mãos masculinas de raízes profundas. Aquele jeito de não saber e não querer saber, porque viver basta, e não há necessidade de entendimento maior que isso. Tudo tão simples que uma pergunta é suficiente: estamos felizes? Então está bem assim. Como o sol evaporando a água do mar, secando a areia e o sal para formar milagroso castelo.

E então aqueles sentimentos novos que a invadiam: a alegria inconseqüente, a falta desesperadora, o ciúme enlouquecedor. E uma enorme e inesperada insegurança. Porque não era mais dona de nada, não possuía nada além do instante, que fugaz se esconde na primeira hora do dia. E volta com promessas e juras eternas, que não se comprometem mais do que durante uma música, daquelas que ele costuma cantar. Que duram o mesmo que aquelas mensagens quentes e doces em horários inesperados. Sempre uma novidade, sempre algo inusitado: uma vermelha flor solitária, uma proposta irrecusável porém absolutamente irreal, o cruzar de toda uma cidade por dez minutos de abraço. Vontade de agradecê-lo a todo instante. Medo de acordar de um sonho bom. Sensação de que tudo, absolutamente tudo, é possível e é viável.

Nascia assim uma paixão por hora, que se renovava minuto a minuto, com nenhum vislumbre de futuro e nem de fim porque não era capaz de olhar para frente, mais longe que a distância dos rostos, dele e dela – sempre muito próximos porque suas bocas não conseguiam mais se afastar. Então vão seguindo juntas, enquanto der prazer, enquanto tiver alegria, enquanto houver encantamento. Do futuro, ninguém precisa saber: e agora é essa toda a grande sabedoria.