Atenta-te AMOR

Razão que tenho eu contigo?

Não quero teu conselho hoje.

Hoje não!

Ele me verá como sou.

O que tens comigo senhor Amor?

Disseram um dia que o poeta é um fingidor, que finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.

Sou hoje um poeta na acepção dessa palavra.

E tu de longe se ocupa de vidas alheias com o intuito simplesmente de afogar em lagrimas os tais corações apaixonados.

Porque não desistes de tentar afogar este?

Este não consegues...

Admita, vamos!

Tentas a anos, frustrada e desesperadamente tentas.

Já lhe conheço amigo.

Veja, ate lhe chamo de amigo!

Alguns temem profundamente lhe chamar de amigo, eu ostento este louro com orgulho.

Será que vem daí essa tua incansável luta?

Já não há mais distancia entre eu e sua conhecida, a Dona dor.

Já passamos horas dividindo o mesmo fogo.

E não se engane, ela lhe conhece como poucos.

Conhece tanto que nem se atina pelas tuas bravatas.

Ela me contou de tua ascendência, me contou ser teu pai a miséria e tua mãe a beleza.

Entendi então, que mesmo aos finos óleos e ungüentos que te banhas ainda tens em tua pele o que recebestes de teu pai.

E miserável como ele, ainda encontras prazer em ver aqueles que sentem dor...

Desenganas de mim, já não sinto dor a tempos.

Sou pronto.

Em todas nossas conversas, ate nas mais quentes nunca o vi de dentes tão cerrados.

Então será possível que entendestes a idiliosa face do sofisma que tanto adorava bordar?

Argumentar sem razão somente deixa conjecturas por herança.

Argumentar sem razão faz do eloqüente apenas inconseqüente.

Por isso sempre te disse que andar na luz é questão de percepção não de visão apenas.

Mesmo que crie um universo, sem matéria será apenas um conceito leve e dependente da imaginação de quem o recebe.

A sua amiga Dona Dor pelo menos tem mais clareza no que almeja, apenas participar do banquete sem mesmo lugar a mesa.

Enquanto tu, alem da atenção deseja a devoção de todos.

Aviso-te mais uma vez nem todos tem na dona Dor uma inimiga.

Este é meu caso. Infelizmente, infeliz tal mente!

Não me atenho a tuas odes, chorosas e melódicas de fato, melosas por demais.

Estejas certo que se não me tratares como teu, amigo eu seja!

Em minhas botas terás descaso!

Seja toda a tua beleza e formosura vivas como sempre foram.

Mas que tenhas inteligência e principalmente frieza para ser o que deves não o que desejas.

Pois há em alguns moradas suficientes que recebam tua amiga Dor mais bem recebida do que tua comitiva, as vezes tão pomposa e fútil que se perde sem nem mesmo entrar.

Esqueces amor, que deves apenas cumprir tua existência em vez de rompar.

Deves apenas Amar.