Poesia do EU confuso.

Estou confuso.

Uma sensação de estranheza envolve toda a minha cabeça. Sempre me senti assim, mas a intensidade parece insuportável.

O toque do telefone cinza entrou como um gato no meu olho.

Nunca consigo parar.

Penso na precariedade da vida e na fragilidade de todas as pessoas.

Afinal, por que o esforço, o sonho, as lágrimas, os transes, as preocupações e os temores ?

Nos próximos 100 anos, quem vai lembrar dos nossos nomes?

Acendo um cigarro de cravo.

Tenho que admitir, meu idealismo, minha utopia de construir um relacionamento “diferente” foram idiotas. Desde o início tudo foi uma enorme farsa. Insisti, mas o jogo já estava perdido.

Poesia não. Dinheiro é claro!

Espero me enterrar de vez no solipsismo. Quero procurar meu eu poético, talvez isso seja algo que tenha algum sentido.

Compreenda, preciso encontrar um caminho.

Tenho medo nesta noite triste.

O sol derrete tudo o que eu amo.

Hoje, 19 de maio de 1997, vivo emoldurado num quadro branco.

Repito: o sol quer matar todos os peixes.

Preciso exorcizar o demônio.

Acendo outro cigarro.

A respiração é acelerada e entrecortada por um som metálico e seco.

Visões me aterrorizam.

Que tipo de julgamento é esse ?

Deveríamos aproveitar nossas condenações.

Não sei o que estou dizendo.

O ritmo é ofegante e doentio.

Aonde estarão todos os garotos do Jardim Paulista?

A barca do esquecimento estaria repleta se não fosse a hipocrisia que nos rodeia?

Ninguém enxerga, todos são surdos, não existe pensamento. O mundo está feliz assim. Porém, continuamos, teimosamente, contrariando a mediocridade. Tudo para não receber recompensa alguma. Teremos algo? Não, só temos traumas.

O que você (eu) diria se encontrasse um antigo amigo (por exemplo, o Parpinelli) casado, barrigudo, com sua vida regrada, sem pensar nesses dilemas que atormentam nosso cotidiano?

Mais um cigarro.

Observo a inutilidade do meu dedão esquerdo. Adoro observar coisas inúteis. A imagem de São Sebastião, ao lado da Catedral, é uma delas.

A respiração parece mais tranqüila. Ela foi embora. Leves sombras encobrem meus olhos.

O barulho da noite é quebrado nesse instante. A aura das coisas acaba de repente, como a urina contida na bexiga de um bêbado.

O tic - tac do relógio outra coisa inútil. Porém, representa uma espécie de inutilidade que não me agrada.

Nosso julgamento continua acontecendo…

Todos acordaram.

Meu desespero é um galo rouco.

A febre consome meu pensamento. Caminhos tão conhecidos parecem estranhos. Lembro de uma alegre tarde, caminhávamos pela rua Piracicaba. Isso parece distante, o sofrimento deixa tudo mais distante. Poderia dizer, em 1987 tudo era diferente: “o único paraíso é aquele que perdemos.”

Peço aos deuses que não me enforquem na … ouço apenas leves murmúrios. Acho que as pessoas já estão esquecendo.

Somos sombras na folha de um caderno e gritamos: Uieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.

Uie, nossa essência destrutiva e poética!

A bicicleta azul cruzou várias vezes a morte naquela noite.

Um ser uie é singular. Somente um outro ser uie pode compreende-lo. Por isso somos amigos, contra todas as impossibilidades.

Para o Matheus Marques Nunes.

Marques Nunes
Enviado por Marques Nunes em 20/06/2009
Código do texto: T1658558
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