Diário dos olhos

Jazo a vida. Nada de mim interrompe nada.

(Bernardo Soares)

Fiz uma pausa para sentir a despedida dos olhos.

Podemos seguir até

Até a despedida dos olhos.

É ilusório a duração. O que mais dura, dura somente enquanto

as aves voláteis desintegram-se no ar.

Tudo está por ser: essa é a duração: o que não é até

ao que não vai ser.

Seremos um outro para lermos o diário dos olhos.

A íris presa em histórias impossíveis. Essa é a garantia que temos para esgotarmos nas sessões de cinema:

começo e fim simultâneos na urgência do querer.

Amo que tenhas asas, e que essas não servem para nada:

não sabemos voar. Amo a vertigem de me perder,

por isso não gosto de cais: ali se sabe que se vai e que se vem: prefiro não saber se estou indo ou vindo:

sentir tudo no mesmo contrário.

Está onde as pessoas lêem poemas que nunca serão escritos, porque já foram. As pessoas ou os poemas? Não faça tantas perguntas, isso, provavelmente, é só um problema de linguagem, e a minha é tão precária quanto a sua. Assuma que isso tem importância, e qualquer coisa que se diga, torna-se um esforço inesgotável.

Sejamos simples. Façamos cartas de amor,

com grande dificuldade, alumiados por uma vela ardida.

E sairão coisas belas, porque singelas.

Meu cansaço pede versos de areia ao vento para ler o mar

no diário dos teus olhos

Carla Carbatti
Enviado por Carla Carbatti em 23/06/2009
Reeditado em 16/02/2010
Código do texto: T1663164
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