Diário dos olhos
Jazo a vida. Nada de mim interrompe nada.
(Bernardo Soares)
Fiz uma pausa para sentir a despedida dos olhos.
Podemos seguir até
Até a despedida dos olhos.
É ilusório a duração. O que mais dura, dura somente enquanto
as aves voláteis desintegram-se no ar.
Tudo está por ser: essa é a duração: o que não é até
ao que não vai ser.
Seremos um outro para lermos o diário dos olhos.
A íris presa em histórias impossíveis. Essa é a garantia que temos para esgotarmos nas sessões de cinema:
começo e fim simultâneos na urgência do querer.
Amo que tenhas asas, e que essas não servem para nada:
não sabemos voar. Amo a vertigem de me perder,
por isso não gosto de cais: ali se sabe que se vai e que se vem: prefiro não saber se estou indo ou vindo:
sentir tudo no mesmo contrário.
Está onde as pessoas lêem poemas que nunca serão escritos, porque já foram. As pessoas ou os poemas? Não faça tantas perguntas, isso, provavelmente, é só um problema de linguagem, e a minha é tão precária quanto a sua. Assuma que isso tem importância, e qualquer coisa que se diga, torna-se um esforço inesgotável.
Sejamos simples. Façamos cartas de amor,
com grande dificuldade, alumiados por uma vela ardida.
E sairão coisas belas, porque singelas.
Meu cansaço pede versos de areia ao vento para ler o mar
no diário dos teus olhos