VULCÃO

Você me amou feito louco apaixonado, inebriado. Eu não acreditei. Ainda hoje prova, demonstra, exagera, renova. Continuo descrente. Serei doente? Não. É a vida, esta imensa ferida, que nunca sara e da qual sempre se duvida.

Você me dá flores, mesmo sabendo que gosto delas somente nos jardins. E aí me beija, mente, diz coisas bonitas na sua inocência. E me vence. Por que é vencedor? Quem me dirá? Que segredo existe na carne masculina, que veneno desejado é esse que quer e consegue me anular?

Para tantas perguntas, suas respostas são curtas, simples, naturais quase como as plantas. São respostas intuitivas e ganham longe das respostas elaboradas. Em que época e espaço neguei amor e hoje me domina seu abraço? A minha fortaleza tombou, esqueci da tese, quanta contradição!

Vivi um vulcão ativo e senti o prazer do fogo anestesiando tudo quanto organizei em tolo baú teórico. A Natureza é prática e lógica, mesmo que se nos pareça estúpida.

Talvez amor seja isto de adivinhar pensamentos. De chegar com um cafezinho no momento exato. De dizer “Você é linda”, justo quando a gente se sente imprestável. De sem motivo especial abraçar muito, muito forte.

Eu não quero que me conheça no âmago, está proibido. Mas pouco adianta. Aliás, nada adianta. Você nem sequer conhece a palavra vassalo, e por que sabe tão bem assim fazer a vassalagem? Eu não sou rainha, não precisa se curvar.

Sei que para você um castelo nada mais é que uma casa velha, feia e cheia de morcegos. Mas sei, inclusive, seria capaz de decapitar um rei para me satisfazer caprichos. Sei também que não teria medo de leões, de cobras, das ondas do mar. Que se deitaria sobre mim, se eu enlouquecesse e sobre trilhos fosse me lançar, faria da morte uma brincadeira, certo de que nossas almas enamoradas sairiam voando pelas nuvens. Veja quanta inocência! Sim, essa inconsequente inocência me venceu, roubou de mim aquela vontade filosófica de “ser Deus”.

Por que você finge ouvir meus versos? Eu sei que quer mesmo é me tomar. Fazer de mim sua poesia e de tanto amor me sufocar.