fragmentos do instante (continuando.)

15.

não me apodero do profundo o tempo todo, fico às carícias na superfície, que não sou besta!

***

16.

era só um abraço, ela não dava, não tinha braços móveis, era de uma dureza que se quebrou toda, como por inteiro e por encanto foi juntando os fragmentos, cacos esparsos no tempo, com uma ligadura macia, uns líquidos nas articulações sem vértices, sem arestas ásperas, uma lisura volátil... agora uns gestos esfumados no ar, uma volitividade silenciosa, mudez em circulo abraçando o vazio molhado do de dentro...

***

17.

Procuro a coisa em quê? A coisa nas coisas. Não é uma espécie de saída ou de grande final, procuro como as águas correm debaixo de uma superfície aparentemente parada. Procuro o dis_curso da língua, das coisas, o devir do tempo.

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18.

Quando escrevo, toco silêncios estancando artérias.

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19.

Toda forma de hierarquia é repugnante.

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20.

Tenho sido toda distâncias, latitude longitude, olho para os meus pés e chega dá vertigem, latitude longitude. Não ouvisse falar da ciência acharia um milagre estar de pé.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 14/07/2009
Reeditado em 14/07/2009
Código do texto: T1699207