Toca a vida
"Toca a vida, Josi"... Era assim que a minha mãe falava, quando eu estava triste...
Penso que chorei pouco, quando menina... "Até os doze anos, chorava pra dentro..."... Ficava vermelha e cheia de bolinhas... Tinha febre e agarrava os joelhos com força...
Guardo tanto disso ainda...
Grudo-me aos joelhos... Tenho febre... Mas, as lágrimas... Essas eu deixo que rolem...
São a mina d'água dos meus textos...
Tocar a vida... Pensei nisso hoje, depois de abrir mão do texto mais lindo que eu vivi... Um cuidado, que talvez nem seja entendido... O cuidar do outro... O dizer não, para o outro encontrar o caminho. Sabendo que o abrigo é o meu peito...
Nem sei o que de fato seria "tocar a vida"... Pensei que era ir em frente... Abrir o peito e deixar que a vida se apresente...
Ora, penso que seja tocá-la para longe... Entristecer... Ora, agarrá-la ao colo... Tocá-la.
Hoje, eu não sinto os meus calcanhares... Sempre soltos, a correr pelos campos... Deixaram-se agarrar, de uma forma que nunca acontecêra antes... Eram apenas planos... Que viraram retas... Distâncias... Eles estão dormentes... Perplexos... Perpendiculares...
Olhei-me no espelho... E tentei dizer "Toca a vida, Poetisa"... Mas, não fui reflexo de mim...
Hoje, solucei... Nem choro foi...
Olhar a vida sem vê-la?... Será assim, sem um texto rabiscado...
20:18