MINHA JOIA (OUTRO OLHAR)

Tenho uma gema rara entre as mãos. Adormeço sentindo sua textura e olhando o seu brilho, de olhos fechados e mãos espalmadas. Tediosos são os dias e quentes são os ventos neste inverno em outro lugar. O féretro foi a 5 anos. Acompanhei o cortejo sem saber... tanta gente, “Tanta”. Santa Rosa também se foi. 103 anos! Por que viver tanto? Um tempo depois, quando tudo se sentou eu continuei a seguir, rangendo a alma, arrastando os pés.

Caí muitas vezes, em muitos chãos. Também vi outros caírem e tentei dar a mão que escorregava como se alguém estivesse pendurado em precipício... e o peso, o peso... não tive forças... Assim, dobrei o céu e o guardei por muito tempo em meus bolsos. Quando quis desdobrá-lo não soube em qual estava. Vasculhei uma vida inteira, mas achei... bastante amassado e amarelado... o céu baunilha... todas as tardes, pontualmente, surge a cor invisível, linda!!! Tudo dourado e amplo por alguns minutos que me valem todo o meu dia!

E o que é a felicidade senão esta efemeridade eternizada por lembranças? Então revivo sempre esses parcos momentos. Faço as contas que eu penso. Assim engano a mim mesma e conto muito mais alegrias que tristezas. Aperto minha pedra agora. Geometria perfeita em mãos contraídas.