Meu Pai

"Um cidadão latino americano... "... Uma mistura de todos nós... Meu Pai!

Em homenagem seleta... Aquilo que eu poderia dizer-lhe, se ainda estivesse conosco...

Um homem contente... Às vezes, triste... Como se algo lhe esmagasse a alma... Nunca descobri o que era...

Trago, na minha alma, esse traço rasgado de uma necessidade contida... Embora, eu tenha fortalecido um pouco mais os laços com a alegria...

Tenho seus braços longos... O alcançar de longe... "Somos um polvo", ele dizia...

Meu sorriso de cantinho... Meus cabelos castanhos (mate) verde..rsrs... Tudo obra dele...

Tinha sonhos... Tantos e tantos... Não realizou nem a metade. Mas, o que importava para ele era o ato... O sonhar escancarado...

Lembro-me de quando pegou um pedaço de "espuma", esponja de um colchão... Com uma faca afiada criou o contorno... Com calma... Sempre demorava em fazer tudo... ( Reclamavam tanto disso...rsrs)... Ele fez a cabeça, o tronco, os membros de um sonho... Cortou duas partes iguais... Costurou-as com um fio bem forte... E pediu a minha mãe para vesti-la... Pediu que a fizesse com um sorriso igual ao meu... E, da sua obra de espuma, nasceu a "marisa"... Uma boneca de cabelos vermelhos. Isso foi em 1979... Eu ainda a guardo comigo, junto ao peito na hora de dormir... Mudei o seu vestuário e a face, por conta dos anos que passaram... Mas, a espuma costurada, ainda é aquela delineada pelas mãos do Meu Pai!

São fatos que eram atos de bondade e necessidade...

Meu Pai era gaiato... Brincalhão... Vivia armando algo...

Era exigente... Tinha um gênio complicado... Mas, chorava, quando triste...

Deixava eu sair, na adolescência... Nunca me proibia de nada... Dizia que eu era fogo... Que confiava em mim, porque ninguém iria ter a coragem de magoar-me... Porque eu era forte... E bastava um olhar meu, para os garotos não “folgar”. (Ele tinha um pouco de razão nisso...rsrs).

Uma coisa apenas lhe deixava meio cabreiro... O fato de eu viver em volta dos livros... Dizia que não precisava... Que mulher bonita tinha de aprender a cozinhar... Já era o necessário. (Nunca aprendi a cozinhar direito...rsrs).

Aprendi que o mundo não é tão bonito quanto parece, mas que com um pouco de arte, tudo fica perfeito...

Aprendi que nas noites de tempestade, meu pai precisava de mim... Porque ele tinha medo de algumas coisas que não entendia...

E que ter medo é normal... Que o nosso cérebro é parcial. Que chamamos a atenção do outro, com medos inexistentes... Apenas, para ser amado... Apenas para não ser esquecido.

Aprendi que a palavra é o que mais importa num homem... A dignidade de dizer a Verdade... Mesmo quando isso magoa. "Um Homem... Uma mulher... Têm de ter fios de bigode"... Brio!

Fui a "rapa do tacho"... Éramos quatro...

Em casa, seis... Partiu minha mãe... Meu pai... E meu irmão... Muito cedo... Ficou um vazio enorme... Mas, sei relevar a grande magia da vida... Depois de tudo, a Transição... Então, porque não fazer desse tudo a Perfeição!!

Lembro-me de tanta coisa... Do chimarrão... Do cigarro que eu não gostava... Dos passeios para o “Lá longe!!”... Um texto não seria suficiente...

Meu Pai... Um homem com sangue nas veias... Um gigante... Um herói...

Meu pai... Passou correndo... Nem deu tempo de dizer-lhe tudo isso...

19:00