COTIDIANO (OUTRO OLHAR)

Necessito de uma linha. Um risco sem maestria. Que seja um retrato. Me posto a olhar os detalhes deste risco fotográfico que converge para a alma. Vai ficar para a posteridade, quando no futuro eu possa tocar o risco tremido e ver o registro de uma vida. Minhas lembranças futuras me veriam dançando pela mão que me suspende por fios, um dedo a cutucar meu coração. Quem viu vai lembrar pensando que eu dançava por vontade... rodopios perfeitos. Mas as pessoas enxergam o que bem querem! Como querem! Um movimento brusco, um puxão, se revela em momentos fortes de aflição. Errei o passo. Mas não era eu, e sim a mão! Difícil alcançar os fios e cortá-los a dente! Difícil entender que nem tudo é o que nós queremos. Mas existe livre arbítrio, é por ele que escrevo sob as terras mais profundas, úmidas, achando restos, cacos, pedras, algumas coisas orgânicas também... em decomposição. Arqueologia dos porquês. Isso tudo não passa pela metáfora, nem pela imaginação! É real como a mais inventada prosa! Real como a mais descritiva cena romanesca! Antes da continuidade, já sei do próximo capítulo, os seguintes claro que não! Pois tenho esperanças! Os dias seguem... verei se o açougueiro cortou minha carne, se o carteiro deixou alguma carta. É a rotina, mas vou dançando... ando meio farta.