DO QUE É SÓLIDO (ÚLTIMO OLHAR)

Percebo, depois das constatações líquidas da minha vida, que há algo de muito sólido... que possuo algo de muito sólido. E isso não "se desmancha no ar”, como afirmava Karl Marx. Esse algo impulsiona minhas engrenagens. É como a simples tarefa de abrir os olhos pela manhã, ouvir os primeiros sons; cachorros latindo, o canto dos bem-te-vis, algum motor que faz algo andar; até mesmo o ar ao meu redor. Pois, essa Solidez não se pode tocar, mas sentir! (que vontade de pôr aquele meu vestido branco!) É o efeito pássaro, algo profundamente independente de qualquer textura. Não é uma incógnita. Pois se quer fazer entender e traduzir de milhares formas. Nem que seja aquela mais aquém do verdadeiro teor, mas é imperativo que seja dado um sentido qualquer. Não adianta escrever como quem fala para dentro, sem abrir a boca, fazendo jorrar uma profusão de palavras mudas. Então, sem metáfora nenhuma, digo do que se trata minha solidez: Amor.

Planto caiaques e depois desço com eles, atravessando brejos para chegar ao outro lado, onde o tempo bom é ininterrupto. Sólido sim! E tomo meu café quente, degustado prazerosamente em um quarto de hora... Longos minutos de satisfação. Sólido sim! A vida está a irromper sempre! Em passos largos e mãos ágeis, afastando alguma nuvem mais densa que queira se encorpar no céu. Uma claridade recente toca minhas pálpebras e sorrio. É solido sim!