Outorga à Consciência

Autorizo minha consciência e os meus mais cúmplices pesares, a me delatar neste instante presente, sem culpa ou desleixadamente - havia alguns de mim a pouco, esvaneceram-se.

Peço, somente, que me seja assíduo, freqüente e não me preze pelas infelicidades vividas – e já dissolvidas – mas pelos anos batidos no equívoco.

Seja intenso, verossímil e tenha em si, o embasamento descortês dos castradores, não dos apaziguadores, que soletram modismos a nos torturar em donzelas de ferro.

Não irei desmerecer teus versos ou sílabas intencionadas de chumbos; poupe-me apenas de blasfêmias – sou um verme, uma tênia, mas me alimento de seiva, em essência.

Deite-mos intróitos apelativos e indolentes, deite-mos com ódio – não haverá robustez a me erguer, se maldita for a virtude de tuas palavras.

Coloque-se à nascente dos entraves e não forneça indulto, marcarão menos tumulto e os vindouros e altivos, far-se-ão de mudos.

Solte pelas ladeiras, todos aqueles rolimãs em pedúnculo, no prumo, na certa. Permita só à carcaça, um átimo de escuso cândido, pelo ver, há de se ter tamanho e ostentará delícias no pódio da loucura – e vai nesta frescura...

Olha que sou um toco rude, assaz pungente e tenho em mim, todos os vassalos a me guiar e a me despejar, caso outrem não o faça, em preliminar.

Compreendo muitos dos teus motivos e sigo-te através das veredas azuis, até nas cinzas. Pois então, apunhale-me!

Siga teu curso como perene e austero manancial, não me recuse as ojerizas - já não somos mais tão puritanos, temo-nos bastante carinho e nos estimamos.

Conduza-me ao tribunal dos enfermos. Se condenado for, ingiro, porém, não digiro as engomadas frases de cianuretos, as quais me couberem – e sabes que ferem! – e muitos de mim que me acompanham agora, secarão desgostosos da vida e, nem devida, a tarja irá sustentar.

Mas, vem cá agora e já!

Já me lembro de fatos arqueológicos, companheira sagaz.

Por esses tempos a fio, tornamo-nos mútuos fiadores, senhores de confidências. Nos teus trabalhos inconseqüentes e abomináveis, tolhi tuas cargas, espantei teus abutres e os ordenei exílio eterno – e nem os vernáculos tolerei!

Peço um reexame profundo e não mais peninsular dos teus avanços, exijo ter-te na melhor forma e com as mais áureas intenções. Labore um tanto; meu canto há de me escorar enquanto tu e o relógio caminhais.

E então, pensaste?

Se ainda queres, cegue-me, ó implacável conselheira. Pensei ter em ti, um refúgio à minha alma fatigada e negativa, assumi teus oitavos e nonos sentidos, ratifiquei-os com atos ou gestos teus formidáveis incestos, fui o interlocutor de teus domínios e nos teus arrulhos pela aurora.

Sabes que os momentos nos amedrontarão quanto mais distantes e ausentes estivermos – seremos certas presas.

Se atentares às minúcias, terá de se curvar para se ter regozijo. O universo nos bendirá e estampará seus molares em nossas testas. Assim, poderemos postergar nosso embate e somar tempo a um reajuste. Desfrutaremos impunes pelos delitos mal compreendidos e sob imensa e inegável fé, escoltar-nos-emos firmes e fortes.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 14/06/2006
Código do texto: T175502
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