Menina

Um dia fui boneca, fui Emília, feita de pano e peripécias, dentro de uma caixa doada como presente a quem já me tinha.

Outra vez fui rainha, ainda que minha coroa fosse de sabugos tive súditos, mesmo que suas vidas pertencesse a outros e a minha própria não fosse minha.

Por várias vezes fui bailarina, a minha dança não era diferente da das outras que me acompanhavam, mas eu encantei a quem importava, e isso era superior a todas outras vontades.

Ainda fui Pollyanna, acreditando no melhor e que sempre algo bom aconteceria, mas minha crença era baseada num forte, que no final das contas nunca tremeu e sempre me sustentou.

Fui uma rosa, que reclamava e reclamava cheia de caprichos prontamente atendidos pelo maior amor conhecido.

Mas sempre menina, isso nunca deixei de ser, carregando minha coroa de sabugos, minhas sapatilhas já pequenas, minha crença inabalável e meus caprichos tortos. Continuo menina e pertencente a quem me doaram como presente, mas não dentro de uma caixa e sim de seu próprio ventre.

Hannah Cordeiro
Enviado por Hannah Cordeiro em 20/06/2006
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