COMO ERA BOM!
Lembrando-me das cascas
- com o peito em lume; o resto, na banca de jornal -
Ah, quantas cascas!
Eram serenas... tão dóceis!
Como as flores sem nome que os poetas adubam e emudecem
Noite em nostalgia.
Havia magia, sorvia-se essência
Pela luz que há na greta, havia!
Pelo átimo a resvalar na incerteza da adolescência
Eu, a amplidão, a vala e as frestas
Por onde se enxergavam as ostras, preenchiam se os alvéolos.
Através da tarde sabor manga coquinho
Deixávamos fluir o mel precioso, tão cioso, tão fausto!
Dava para se enjoar da magnificência ébria de luz
E havia pus!
Dotava-se do antídoto, das verdes matas e das sombras
Precisava-se de mais: tínhamos; a juventude em plenitude, o ócio em polvorosa.
Como era bom ser jovem!
Como era vida desgarrar-se das anáguas do passado e se tornar intrínseco do porvir
[como coelho faz seu álbum, como água a sumir de vez]
Na consistência desmembrada das manhãs, reviver intensamente
À mercê da exclusiva ignorância real dos sentidos
Quanta ambigüidade, tanta incoerência!
Mas é esplendorosa a incoerência
É cor de lata amassada, de merenda escolar, de prova de matemática
Ainda ouço aqueles cheiros todos encaraminholando angústias e indo ter com a sorte no baixio da escada...
[cascas de parede desmaiavam de rir]
Como era bom ser jovem!
Nem mesmos as mais amargas nuvens de fel e grinalda ousavam fazer mal
Era-se protegido por leis sobre as quais eu não sei discorrer
Mas, cometiam-se tantos erros; tão desmesuradamente deliciosos, os erros
Que se ignorava a suculência dessas cascas que nos viam de pijamas todos os dias
A começar pelas almas de todos
Ah! Como era bom...