Amanhã...Amanhã...

Lamento estas palavras com um nó no coração!

Cansada, exausta, trémula e sem sentido qualquer para a vida me encaixo neste preciso momento.

Sinto-me só, tão só! Sem nome ou abraços que me aqueçam as memórias, sobre chuva miudinha sem qualquer chapéu que me proteja, sem roupa no pelo… Nua e vazia, tão vazia como este coração que teima em me arruinar as portas numa fracção de segundos.

Dói…Dói tanto, como uma doença que nos come, se alimenta de nós, devora-nos à velocidade desta realidade que nos beija enquanto nos rouba o olhar, o melhor dos nossos tempos.

E o cansaço, esse é uma fonte gradual que me morde, assimila, e está estampado nos meus olhos, nesta tristeza com reflexos de solidão, pés ausentes e mãos trémulas, porque ninguém vê… Nem tu!

Desapareço no acidente do dia, e fico segundos a olhar a eternidade do sol, naquela hora de pausa que supostamente a deveria partilhar, mas não, estou também só.

Lamento as palavras serem ruins e tristes, mas o estado de espírito não engana, enquanto me agarro no cimo desta varanda olhando o infinito na crença dos anjos, seduz-me os medos e a angústias com quem convivo dia e noite.

Não tenho tempo nem sequer para pensar, e isso leva-me à loucura, a lacunas nos diálogos, não comunico como gente, estou só.

Queria falar agora, ouvir com prioridade um pouco de voz, uma gargalhada sonora, algo para me fazer sorrir, ou quem sabe até rir.

Queria um olhar que me distanciasse desta cidade com rasgos nas memórias, com amnésias constantes e acima de tudo de afastasse deste universo em que as pessoas vivem de costas uns para os outros.

É aqui que a desilusão é um triste facto, e os sentimentos emoções que não encaixam perfeitamente, custam a entrar, são forçadas, e por vezes jamais se entrelaçam entre si.

Isso para dizer que esta bola giratória que se chama terra, é tão similar e imperfeita como as pontas cúbicas e afiadas do universo que em pequena tentava limar e desacreditar.

Passo sobre um movimento, deixando-me ir por mais uma onda, uma maré que vai e volta sempre, mesmo em marés rasas, mesmo em noites escuras… Águas que me deixam sempre no mesmo sítio, em esperança que não me foge nunca, nem quando o desespero é gritante, a solidão um processo factual da vida, e o silêncio uma arma.

Sei que cansa este meu cansaço, a minha exaustão, combustão e solidão…

Sei que é tão triste a minha tristeza, tão frágil quando precisamos todos de força para caminhar, mas resta-me isto para viver, para me alimentar, engrandecer e fortalecer a alma, é como se o meu tinteiro fosse uma fonte inesgotável de espírito, força, vozes e abraços, mesmo quando a sua tinta é composta de lágrimas…Mas na fusão com a tinta tudo se transforma em ouro, e a minha mina chama-se esperança.

Não me lamento, não me esgoto, não desespero ou revolto…

Não tenho tempo… Fico aqui desafiando mais uma madrugada, sobre quinze horas de trabalho, alinhando pensamentos e memórias que me tentam fugir, cozendo o bem e o mal, matando a sede com uma pitada de saudade e escrevendo com medo de desiludir…

Preciso dormir urgentemente, de um barco que me leve para o Oriente, de um sorriso rasgado nesse olhar inconfundível, e de um pouco de ternura.

Eu volto, eu prometo que volto, volto se me permitirem, deixarem ou terem esperança que de uma próxima vez trarei uns enormes olhos alegres cores de mel, e uma gargalhada feliz estampada no coração…Eu também tenho tantos dias desses…

Basta tão pouco para isso, mas hoje não é certamente.

Amanhã…Amanhã…

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 23/06/2006
Código do texto: T180887