E depois... Vinho!

Quase me esqueci de quem eu era, olhando em olhos que não me viam. Fiz perguntas que não tinham respostas, dei respostas a perguntas que não foram feitas. Cri quando era hora de duvidar, ainda que duvidassem de mim quando eu dizia a verdade. Criei calos na minha sensibilidade, amordacei a emoção, prendi palavras não ditas em muitas folhas de papel.

Tirei horas a mais de meu relógio limitado, dobrei e redobrei meu tempo num origami complicado – papel vermelho brilhante, refletindo vida do lado avesso. Pensei em instalar em meu quarto um espelho gigante que me permitisse ver por dentro, mas desisti da idéia ao me olhar por fora, por medo de não me reconhecer nunca mais.

Acordei às três da tarde, almocei na hora do jantar, fui ao supermercado de madrugada; atrasei duas horas para o compromisso, não liguei para minha mãe. Deixei a outra vida em espera nos fins de semana, deixei as obrigações em suspenso nos dias inúteis... foquei apenas uma meta, mirei apenas um alvo - e eu tinha apenas um tiro!

Preciso retomar a vida, esquecer a dúvida, cobrar a dívida. Preciso tomar ar, tomar fôlego, tomar tento. Preciso tomar jeito; e depois - só depois - uma garrafa inteira de vinho.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Preciso Tomar Jeito.

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