EMBARAÇO EXISTENCIALISTA
Da janela do apartamento,
Abrigado
Vejo lá embaixo o catador de lixo
Ele revira as sacolas
Alienado
Em busca quiçá de desafogo
Ao fogo
Que das entranhas o atormenta
E eu aqui, um nada
Sem poder fazer nada
Sem querer fazer nada
Um pária
De barriga cheia...
Mas assim, de repente
Afinal, penso, sou gente
Vou à geladeira
Manteiga, pão, leite
Que falta isso me faz?..
E num relance de grandeza
Ou por medo da pobreza
Junto tudo e desço
Mas o mendigo já fora
Deixando um halo tenebroso
Jogo a matula na caçamba
E volto aos meus dilemas...
* * *