Cotel maaravi

Para mim, ora tão distante dos mimos do Natal, e da poética encarnação de Adélia, o Presépio soou como trombeta em campo de batalha. Preciso aprender de Adélia ficar tão encantada com o musgo verde... Tenho as minhas ranzinzices e as cinzas que cobrem as chagas, volta e meia revolvidas. Precisaria outra vida, para nascer sem traumas uma mulher, que, nunca assolada pelo amor (o mal das mulheres ocidentais) ou pela discriminação (o mal das mulheres do oriente) pudesse simplesmente não se ver velha demais nos espelhos.

Não sou de bom julgamento. Não condeno Adélia. Eu mesma guilhotinada por tantas tristezas, escrevi com elas um livro e fiz minha mãe chorar (porque mães não entendem sofrimento de filha sem uma dose de culpa e impotência...).

Por ora preciso agradecer a lembrança do poema, os meus caminhos pátrios e idiossincrasias que me mantêm a unidade.

A custo não bebo o vinho da alegria. Minha tristeza eu conheço, mas a euforia produz em mim temerários efeitos, devo guardá-la para quando, entre os companheiros de língua e fé, me sinta livre para a insanidade. Ou para o dia em que eu desbrave esta estranha linguagem e penetre o silêncio e a poeira do templo.

Serei profana por aqui, sem véu, sem vergonha, sem meandros, e eles se escandalizarão do meu poema. Neste dia a pedra fundamental poderá ser removida com um sopro, e eu não terei mais medo.

Meu pedido efervescente já mina as frestas do Cotel.

claudia lidroneta
Enviado por claudia lidroneta em 23/09/2009
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