A DOR DE PERDER ALGUÉM

A DOR DE PERDER ALGÚEM

Parece que estava escrito, eu seria o ultimo dos filhos a assumir essa vida “paternal”, cuidar do meu pai, da minha mãe e de alguns sobrinhos, tinha que ser assim, eu ia assumir todas as conseqüências da família e leva-las até o fim. Cuidei do meu pai, por muito tempo, era como uma criança que eu dava banho, vestia-lho, barbeava... Às vezes, como todos os velhinhos, era rebelde, zangava-se comigo, mas passava, era só de momentos, outras vezes era bem quietinho. E assim foi por um determinado tempo até que a vida já não podia ser mais um progresso e, como objetivo do criador a hora se aproximou e tirou de mim algo que nunca mias possuirei.

Neste momento em que já não enxergo perfeitamente a linha qual estou escrevendo, de olhos rasos d'água e aperto no coração vem em mente breves e duras lembranças da longa história que se acaba para que nasça uma outra, contada em poucas linha de uma simples prosa poética.

Era uma tarde de terça-feira. Como costumeiramente eu fazia, abrir a porta do quarto para ver meu velho, e lá ele estava, enfraquecido e muito febril, levei-o ao hospital, peguei nos braços e o levei. O destino nos prega missões que, às vezes, pensamos não suportar. E estávamos ali, Ele e Eu, no leito, um enfermo de doenças, outro, enfermo de sentimentos, com medo de ser abandonado por alguém que julguava eterno em minha vida. Eternidade que só existirá na memória e sentimentos, eternidade de espírito, de presença nas lembranças. Presença invisível que apenas sentimos, mas não tocamos, não vemos.

É triste lembrar as longas horas que passei em presença do sofrimento da pessoa que tanto gostava, e foi assim, à noite em claro e aquele duro sofrimento, e ainda metade de um dia, até que por um momento vi silenciar as agonias, foi quando lhe molhava os lábios e via o prazer nos seus olhos, seria o ultimo prazer da sua vida: saciar a sua sede.

Era aquele o ultimo momento em que eu estava vendo meu pai com vida, e assim aconteceu, na minha presença, aos 25 dias do mês de maio. Não, não mais esquecerei esse dia, que será sempre eterno em minhas lembranças. A dor da perda nos faz sentir o quanto somos humanos.

CALIXTO
Enviado por CALIXTO em 27/06/2006
Código do texto: T183114
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