Limbo

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É tarde. A noite já se insinua por sobre a serra como um artífice vagaroso compondo uma sinfonia. Primeiro o silêncio, a pausa. E, aos poucos, os sons noturnos parecem mover-se por entre a folhagem. O Sol suspira. A Terra boceja e num sopro lírico, contido, desliza suave, embrenhando-se no lusco-fusco do ocaso.

Posto-me impávida nesse cenário. Observo atenta. Mover-me seria quebrar o encantamento. Quero esvaziar-me, quero apenas sentir esse êxtase que a cena provoca.

Então, resisto à palavra que orbita insinuante. Quero antes fartar-me desses aromas noturnos, dessa umidade, para não vir a poetizar o óbvio. Sinto-me no limbo da espera...

Pouco a pouco o céu se fecha. Vejo estrelas. Seriam estrelas? Percebo que elas habitam em mim. Abrigo-as no interior desse novelo que me enche o peito como se me pertencessem, como se lhes permitisse uma vida eterna.

Resta-me a noite. A noite em minha memória. A noite já passada que guarda reflexos azuis de solidão. A das lembranças ternas que guarda a interioridade do silêncio. ...E esse olhar celeste que atravessa minha estrada.

Vou ao encontro de meus passos deixados na areia. Lá encontrarei os teus.