Nossas Gertrudes

Sobre a vida de Gertrudes

Que se muito fala

São os seus princípios

Que à mostra estão.

Vejam lá a Gertrudes, formosa, de saia

Saindo pra comprar pão

Ela recebe todos os olhares

Curiosos, de baldão.

Na feira, nem de ceia

Serve aos vizinhos de petiscos

Das suas falas, dos seus comentários

Das suas maledicências.

Pobre Gertrudes!

Dia ou noite, está na boca do povo

Não se importuna, nem com o carteiro

A fitar suas pernas, seu jeito, sua fala

E como fala!

Gertrudes é amiga, sorri a todos

A transmissão da empatia

Intrínseca lhe é.

Poderia lhe ser mais, bem mais!

Olha agora, Gertrudes sentada!

Na varanda, de fronte ao jardim

As camélias lhe escondem as coxas

Está na cara dela que não é feliz

E há de existir uma moça como essa, satisfeita?

Nas janelinhas se debruçam todos

Pobres vizinhos!

Procuram na vida da pobre Gertrudes

Um arrimo às suas crises

De vida rasas como pequenas poças ensangüentadas.

Nobre Gertrudes!

No dia de sua morte, esteve ainda na boca do povo

Não se retiveram, nem com o coveiro

A secar suas poças pelo ausentar de seus assuntos

E como os tinham!

Resta-lhes chorar a ausência da moça

E passar mais dias, debruçados às janelinhas

À espreita, procurando figura nova

A compor suas rasas e inúteis vidas.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 28/06/2006
Código do texto: T183694
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