MARINHEIRO

Talvez quem me leia não entenda de imediato o que significa, para mim, publicar meus textos. Recordo-me que li certa vez uma frase no jornal O Pasquim. O autor da frase, salvo falha de memória, foi o jornalista (falecido) Tarso de Castro. A frase é mais ou menos assim: “Tanto o prazer quanto a dor pessoais são intransferíveis.” Faço destes espaços um momento de conversa, de troca, de alegrias, de compartilhamento de ideias. E quando leio comentários é como se mesmo ouvisse a voz de quem comenta. Aproveito para agradecer.

Então, desta vez e com este texto, converso com você para dizer que sinto uma vontade enorme de abandonar o que julgo ser poesia. Não pensem que a odeio ou menosprezo. Pelo contrário, a poesia é um dos meus maiores amores, um verdadeiro amor de perdição. No meu caso, não seria de salvação.

Talvez poetas e apreciadores da poesia se perguntem o motivo. Eu diria que a poesia é bálsamo, mas também é espada cravada no peito. Sufoca, oprime, deprime. A poesia cria mundos incríveis e os abandona sempre em busca de outros. É uma aventura maravilhosa, mas se chega a um determinado ponto em que a alma se encontra de tal forma asmática que é impossível continuar. Aí, então, o poeta se interna. Ou é internado. No meu caso, procuro eu mesma o hospital dos poetas asfixiados. Não me perguntem por que tal acontece, mesmo porque não tenho respostas claras.

Pressinto que a poesia pediu férias de mim e parte, na sua busca de sempre novas emoções, novos portos e destemidos marinheiros. Libero o meu marinheiro para outros mares e céus.

A poesia me aniquila e desgasta, tudo quer e não disfarça. Amanhece na minha cama, me segue, me desnuda. Estou cansada, poesia. Há belas mulheres nas ilhas e nas praias desertas. Pode abraçá-las, beijá-las. Meus braços estão pesados de sentimento e de angústia.

Penso em Byron, Rimbaud, Verlaine, Alphonsus, Cecília, Florbela, Augusto dos Anjos, Castro Alves. Todos tristes. E já disseram que a poesia da alegria não existe. E eu não desejo fazer poemas de aniversário, de casamento, dessas coisas. Há em mim um mar de questionamentos que a poesia singela não satisfaz. Queria mesmo era que meus versos rasgassem a alma como os de Florbela.

Não estou dizendo adeus à poesia. De forma alguma. Só a libero em seu passeio. Também quero passear, ver o sol, as manhãs, tomar café em qualquer esquina. Sozinha. E Deus permita que eu possa olhar as ruas e as pessoas sem misturá-las com a poesia, sem sofrer.

De qualquer forma, reconheço minha fraqueza. E se, de repente, o meu marinheiro retorna, voarei para o cais. Darei tantos beijos saudosos e em seus lábios farei mais poemas. E ele me dirá das aventuras, das baleias e das sereias. E se ele não voltar, que fique feliz por aí. E nem de mim precisa lembrar.