A NOIVA DO VAMPIRO

O que cala o suor dos lábios
da flor de laranjeira?

Na casa do demônio
ela não sorria
nada tinha a fazer
não abria a boca
            diante da tortura
despertava frígida
dinamitada diante de tantos
bacanais da fanfarronice

não se animava a ser sugada
não gemia
perdia o doce mel das pétalas
nas papilas das línguas.

E apesar de toda a sua crueldade
o diabo pensava exalar Poesia
com o seu arsenal de perfumes
na penteadeira, não alcançava
nem o odor de jasmim artificial
nas axilas
somente conseguia
massagear seu próprio ego
e deitar mentiras
            sobre os papéis.

Rosangela Aliberti
Atibaia, 29 de setembro de 2009.


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A GARUPA

Mudando de assunto... quando se tem que pôr o pé na estrada... vestidos esvoaçantes de voal não saem do guarda-roupa, nada mais companheiro nas altas empreitadas do que um par de botinas de couro ou um jeans surrado.

Como não é fácil respeitar todas opiniões, afirmo que é difícil ser anjo: ponderar a hora exata para não intervir em nada, esquecer os conselhos “úteis” em casa, desmanchar conceitos e tabus. Mantendo a autoconfiança e o bom humor nos instantes mais desastrosos porque nem todos costumam distinguir os exemplos da experiência dos que sentem o peso da sabedoria nas costas... o quanto é bom se ver um eterno três “is”: ignorante, inocente e ignorado... porque anjo que é anjo reconhece a beleza dos mais simples, vive na(s) sombra(s), não treme de medo e de frio na falta de luz e presença dos perigos, não torce o nariz para o lixo antiético, tem estômago para não se incomodar com pensamentos medonhos, tutano pra esperar a união das fraturas expostas.

Anjos tem culhões! Inesperadamente, passam por cima dos momentos de excitação para ajudar alguém, deve ser como entrar de pêndulo sobre dois pneus fixos no asfalto, numa moto... a mais de cento e vinte km/h e no final da curva encontrar um outro candidato que estacionará no corredor de algum pronto socorro.

Nem tudo é leveza na cidade dos anjos: na realidade, as asas da imaginação nem sempre são as nossas melhores amigas.

Rosangela Aliberti
Atibaia, 29 de setembro de 2009.

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SEM PALAVRAS

entre sins e os nãos
nada tinha da fada verde
não chegava nem aos pés
             de nenhum talvez
por mais que se esforçasse
                  não criava asas
não atravessava portais
nem destravava velhas
                     correntes
sua mente desocupada
não diluía destilações
de veneno

de ausente humildade,
não via além dos espelhos
com o olhar de “narciso
é o Paraíso”
e mesmo assim
acreditava ser um dos
benditos frutos
de
     Abismo e Absinto.


Rosangela Aliberti
Atibaia, 29 de setembro de 2009.

No http://rascunhospoeticos.blogspot.com/

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Foto angelalib-09

Rosangela Aliberti
Enviado por Rosangela Aliberti em 30/09/2009
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1840276