Um trecho...

...

Passava das três, quando ele chegou...

Falou-me da chuva... Dos ventos que sacudiam o mundo... Falou de tudo um pouco... Falou dos absurdos.

Volta e meia, no nó dessa conversa, dedilhava algo, nas entrelinhas de uma música que ainda não chegou...

Eu, rodeada de livros, pensava no que fora bom... Não ouvia o que dizia... Apenas tentava acertar o tom.

...

Olhei-o tão delicadamente... Como se me apropriasse da retina dos seus olhos... Nenhuma palavra dita... Nenhum toque manifestado.

Levantei-me, de súbito, da mesa onde estávamos... Saí.

A porta fechou-se, atrás de mim...

A direção... Já não importa. O táxi rodou por horas...

No peito um vazio... Não havia mais ninguém... Nem ele, nem eu.

Saí... Rodei as ruas finas... Saboreei as gotas da chuva... Dancei com o vestido grudado ao corpo...

Lembrei-me de um livro... "O Parto do Eu"... Deslizei as mãos, feito um parabrisa... Sorri.

...

O passar do tempo corrompe qualquer juízo... Posso manipulá-lo... Posso fixá-lo ao pé do ouvido...

Sou dona dos meus "flashbacks"... Eu mesma cavo cada abismo.

Nem lágrimas... Nem gargalhadas...

Era eu a acariciar um destino esmaltado... Moldurei-o... Queimei-o. Fiz, da porcelana, o meu retrato.

"45..." está chegando!!