Verdades e veleidades IV****

IV – Encontros perfeitos desiguais

Vou queimar minha alma, desvalorizar a moeda das minhas últimas palavras; mas não posso fazer a auto-imolação da essência de meus pensamentos que queimam minha mente. No futuro, quem sabe, mentes sofredoras iguais a minha possam fazer uma coletânea dos mistérios dos meus velhos baús. Coarem, assim, as veleidades das verdades de um mero sonhador.

Sonhos moldados com palavras, amenizando sofrimentos do tempo enquanto me renego a pressão das horas incertas junto as incertezas de homens incautos. Apenas simples esforço de esboços sem forma literária definida – arestas de um retrato da minh’alma aflita. E quando disserem, basta! Eu retrucarei: Ainda não. Pois o caminho das palavras dos velhos poetas nos leva sempre rumo a um novo vôo desconhecido. Enigmático!

Não que eu queira reviver o sentido dos antigos hálitos dos deuses da poesia, esconder-me do fogo do brilho dos olhos de ultrapassados amores, mesmo sabendo que a fuga ante a nudez – dos fatos e corpos - sempre será inevitável. Batalha desnivelada num campo de almas sedentas, entre almas e conhecimentos... Não que eu não queira o instante da minha derrota sob braços e livros; corpo sem força, mente subjugada na divagação da fuga inevitável.

Embate constante atemporal: meus Apolos imberbes - ultrapassados; abraços sofríveis dos meus vulcanos enrugados - depositários de dor. Rodízio incessante de armaduras sobre corações aflitos ante as incertezas das brumas da noite. Colunas de dores que se quebram a cada instante, com um novo sorriso, com uma nova vida, com uma nova carne... Recomeço das novas formas, quebra das velhas bastilhas de solidões.... Apenas a luta contra as veleidades dos sonhos!!

Mas temos que ir. Anônimos entre rostos anônimos; vidas peregrinas abraçadas em braços frios... Corações solitários enraizados nas aglomerações das formas de amar. Amar?! Sonhar no instante futuro que já se foi. Sentir o passado pulsando nas rugas do tempo; em cada esquina, o encontro inevitável com uma nova vida que poderia ter sido nossa... Não! Apenas sonhos, quimeras de homens perpetuadores da continuidade da alma.

Encontros tardios. Vidas incertas nas suas formas perfeitas de carne. Seremos sempre o encontro desigual sob o manto raivoso do moinho do tempo... Um até breve! Um novo encontro dentro dos nossos desencontros. A essência da continuidade da vida jorrando na esperança de que esta nunca estará perdida; porque o tempo é o dono da verdade das nossas vidas... Vidas efêmeras, almas eternas que se amam em palavras!

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 01/07/2006
Reeditado em 20/10/2012
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