O Semear dos Abacates

Ela não queria promessas, nada de muita pressa para amar. Queria passear no pomar e observar o semear dos abacates.

Os frutos caídos, suas cascas já escurecidas misturando-se à terra úmida.

O semear dos abacates.

Queria ainda olhar, através da janela, as casinhas de joão-de-barro que por vezes surpreendiam um poste.

Uma casinha de João-de-barro num poste de luz, que também se presta ao vôo das mariposas.

Ao anoitecer, sua pálida luz as atrai.

As mariposas atraem seu olhar, que se desvia das casinhas de João-de-barro.

Ruidosas, esfacelam-se contra o poste.

Leves, pairam diante da janela antes de alcançarem o solo.

O zunido de várias delas a um só tempo lhe causa arrepios.

Busca de novo a paz no silêncio que o pomar lhe propõe, e depara-se com o nome e a data talhados no tronco do abacateiro.

Lembra-se do dia em que brincou de bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer e bem-me-quer venceu.

Talhou ali o nome do bem-querido e desejou que frutificasse.

Sem promessa e sem pressa.

Rocio Novaes
Enviado por Rocio Novaes em 02/07/2006
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