Sob a pele de um tigre

"Ator/personagem que fomos/que seremos são dotados de sensibilidade e isso nem sempre as histórias contam. E não é para contar também assim linearmente porque foge à métrica a regras à lógica... os sentidos estão entre os vãos das palavras e no plano real entre a saliva e a pele, que se eriça atiçando o compromisso do existir... Se o que sentimos foge a tudo isso dito, façamos da fuga o elixir!"

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Bastou aquele sorriso, e um pouco de química, para perceber que a vida continua. A quem deveria agradecer? São muitos os integrantes, mas só um o ator principal. O protagonista do renascimento, esculpindo anjos barrocos em palavras bem colocadas - tanto em estilo quanto em timing - e espreitando, como um tigre, à espera do pulo do gato.

E dizemos, em urros felinos, que os encontros são assim mesmo, uma incógnita. Não se sabe quem será e o que será. Escondido atrás de um arbusto, na sua discrição de predador, de soslaio você me olhou. E seu olhar é inquiridor, olhar de quem quer devassar a alma, além da roupa.

Há algo além da compreensão, além das aparências, que os animais sabem bem - mas nós, em nossa humana mania de racionalizar, às vezes perdemos. Uma sorte quando o animal se sobrepõe, e a linguagem do corpo se faz mais eloquente. Não pode haver arrependimento, mas não se pode pensar sobre o que não se compreende, pois a incapacidade de compreender nos incomoda humanamente.

Que personagem você usou, ainda não sei, porque nem conheço bem o ator. Ainda se confundem sob meu olhar o que é e o que parece, o que sinto e o que percebo, o que sei e o que penso que sei. Ainda na verdade nada sei, porque talvez nada haja para se saber, apenas sensações – mais traiçoeiras ou mais verdadeiras? Outra incógnita. E de dúvida em dúvida vamos fazendo as certezas flutuarem sobre a vida que segue.