QUANDO ESCREVO...

Quando escrevo, elaboro a seiva holística

Melo e selo a contracapa da morte, evaginando-a

Se ela, ei-la! - com matracas e alfavacas.

Quando escrevo, padeço em clamar a alma do verso – sol em voga

Paralítico e abissal o velame prateado, outrora rogado

Em sua autarquia mais ingênua, mais honesta, deveras ágil.

Quando escrevo, determino os colchetes de entrada

Navego por mares acíclicos, insípidos, com o olor de flor campestre

Ouso-me e lhe amo, versos de prata! Ouço e o amo!

Na formosura do amar viril e antiséptico; bucólico e servil.

Quando escrevo, faço-o inadvertidamente

Não miro os aplausos, e sim, as favas

Só sei das manias do verso, de se impugnar e de ser recheio

Não a culpo, letra embramada – tem da sorte o tom.

Quando escrevo, boto no copo a divindade demoníaca do espírito

O holocausto casto, plúmbeo e prásino; descorado e âmbar

- parece até que não me esquece!

Quando escrevo, lanço cinza ao codinome do espelho

Sou desjeito, sou canhão (meu faro não deleita; meu farol não se aceita)

Escuto, impávido, a indocilidade e as gírias (a imbecilidade e a gira).

Quando escrevo, admiro sequelas pensantes e lhes dou passado e mel

Ao não ser que ferva de mansinho; a meu ver, o pires recolhe o vinho e o abacate...

Como se fosse ontem.

Quando escrevo, rejeito os versos dourados cheios de rimas; cheiro de pútrida e requentada alquimia

Pois, quando vejo que nem bem sei escrever, enojo-me à alcunha de Hitler frente a um espelho que desmereci e aprendi a amar...

Perdoe-me!

Quando escrevo, não sou capaz de pensar.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 28/10/2009
Código do texto: T1891637
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